Lusitano, Amato (1511-1568)

Judeu português, médico e escritor do século XVI. Nasceu em Castelo Branco, em 1511, baptizado como João Rodrigues. Aos 14 anos foi estudar Medicina para Salamanca, exercendo clínica em dois hospitais aos 18 anos. Regressou a Portugal em 1531, trabalhando em Lisboa. 1533/1534 marca o início da vida errante pela Europa (devido à Inquisição) onde desenvolveu obras importantes. Até 1541 viveu em Antuérpia onde adoptou o nome de Amato Lusitano e escreveu o seu primeiro livro “Index Dioscoridis” (1536). Viveu em Itália (1541-1547), onde foi professor de Anatomia na Universidade de Ferrara. A sua obra mais conhecida resulta da compilação dos trabalhos desenvolvidos entre 1541 e 1561. “Centúrias das Curas Medicinais”, publicada pela primeira vez num volume completo postumamente, em Léon,, em 1580. Cada «Centúria» consiste em 100 casos clínicos descritos pormenorizadamente, com informações sobre os doentes, doenças e tratamentos prescritos. Conheceu João Baptista Canano e descreveu pela primeira vez as válvulas venosas através da inspecção das veias ázigos (1547). Deslocou-se a Roma para prestar serviços médicos ao Papa Júlio III e sua família. Em Ancona publicou “Tratamento das estenoses uretrais” (1552), com que alcançou grande notoriedade. Entre 1556 e 1558 viveu na República Independente de Ragusa, hoje Dubrovnik (Croácia), fora da alçada da Inquisição, onde escreveu a Sexta Centúria e os tratados “In Dioscorides de Medica materia Librum quinque enarrationis” e “Curationium Centuriae Septem”. A partir de 1558 viveu em Tessalónica no Império Otomano (actual Salónica, Grécia). A Sétima Centúria, última do conjunto, data de 1561 e inclui o “Juramento de Amato”. Morreu em 1568, aos 57 anos, durante uma epidemia de peste, enquanto prestava cuidados aos doentes.

 

Amato Lusitano foi o primeiro a estudar cientificamente as plantas ibéricas, contribuindo para a Biologia, Farmacopeia e Botânica Médica. Pioneiro na abordagem clínica da sexologia descreveu pormenorizadamente os órgãos genitais masculinos e femininos; a reprodução (gravidez; desenvolvimento embrionário; parto e aborto; doenças mais frequentes na grávida); algumas doenças venéreas e terapêutica; e casos de indefinição da vivência sexual tanto de natureza física como emocional.

 

Desenvolveu novos instrumentos e técnicas. Alguns autores atribuem-lhe a invenção e descrição de uma prótese para a abóbada palatina cujo registo da aplicação em doentes é da autoria de Ambroise Paré.

 

Esta obra, um importante contributo para a compreensão da sociedade europeia do século XVI, foi traduzida para 59 línguas. Em 1946 inicia-se a edição das obras de Amato, em Portugal, pelo Instituto Português de Oncologia, com tradução de Firmino Crespo e José Lopes Dias. Amato foi um verdadeiro homem da Renascença. Humanista e naturalista quebrou fronteiras nos campos médico e científico, pelas suas qualidades de observador perspicaz e clínico experiente, mas também fronteiras culturais e sociais através dos seus valores de tolerância e respeito pelo Homem. Descrito por Max Solomon como “o Homem que representa a Medicina do Século XVI, como erudito, anatomista e clínico”deixou às gerações seguintes não só conhecimentos sobre o passado mas uma importante mensagem de crença no progresso e no futuro.

 

Paula Antunes, Cátia Loureiro, Joana Castro, Rui Gerardo

 

 

 

publicado por medicosportugueses às 12:00 |