Salazar, Abel de Lima (1889-1946)

Em Julho de 1889, nasce em Guimarães Abel de Lima Salazar, homem de vasto ecletismo intelectual. Desde cedo revela uma invulgar aptidão académica e artística, para além de uma rara atitude pró-activa nos mais diversos ramos. Ingressa na Escola Médico-cirúrgica do Porto no ano de 1909, tendo concluído o seu doutoramento com a apresentação da tese Ensaio de Psicologia Filosófica na qual obteve 20 valores. Com apenas 30 anos, torna-se professor catedrático de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, tendo fundado um instituto de investigação na mesma área, onde desenvolve numerosos estudos e métodos científicos, como o método de coloração tano-férrico e estudos em áreas como a biologia celular ou a microscopia. Foi também o principal representante da sua faculdade em vários congressos de divulgação científica. Não obstante, revela uma atitude anti-conformista não só a nível académico como também a nível político, artístico e ideológico.

 

Como professor defende um ensino laico, fomenta o espírito crítico e autodidacta dos seus discípulos, defendendo metodologias e doutrinas que divergem do sistema em vigor. Como resultado de dez anos de intenso trabalho científico e socio-cultural sucumbe ao cansaço e à pressão, sendo internado em 1926 na Casa de Saúde de São João de Deus em Barcelos e interrompendo a sua actividade académica durante quatro anos. Quando regressa, encontra o seu laboratório destruído, mudando-se para Paris onde adquire conhecimentos determinantes para o seu trabalho e onde continua a participar em manifestações contra o regime repressivo português. Como consequência, é obrigado a regressar e a permanecer em Portugal pelas autoridades, que o impedem de exercer a sua actividade profissional. Tais acontecimentos levam Abel Salazar a dedicar os anos seguintes da sua vida essencialmente à área artística.

 

Destaca-se como desenhador, pintor, escultor, escritor, crítico de arte e filósofo, revelando-se como um intérprete da realidade social do seu tempo e aproximando-se de “um universo interpenetrado por diferentes formas de criar ciência e arte, filosofia e acção” (José Cardoso Pires, 1975). Na pintura, assume a sua faceta progressista e retrata o quotidiano do povo, com particular enfoco nas mulheres trabalhadoras, defendendo a luta pelos seus direitos. Na filosofia, destaca-se como divulgador das ideias positivistas e do pensamento revolucionário do Círculo de Viena, sendo convidado, em 1932, a reger um curso de Filosofia da Arte na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. No ano seguinte, adere à maçonaria em prol do seu espírito idealista e revolucionário, que contrastava com a realidade socio-político-cultural portuguesa da época. Nos seus últimos anos de vida, cria o Centro de Estudos Microscópicos na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e desenvolve novos trabalhos de investigação e projectos artísticos.

 

Em 1945, numa das suas últimas intervenções políticas, transmite o seu descontentamento com o estado do país, referindo que Portugal se encontra atrasado 50 anos em relação à Europa. Em 1946, morre em Lisboa vítima de um cancro pulmonar. Deixa vasto legado científico e cultural, hoje exposto na Casa Museu Abel Salazar em S. Mamede de Infesta, fundada por admiradores e amigos.

 

 

Ana Martins, Ana Margarida Franco, Thiago Guimarães, José Pedro Teixeira

publicado por medicosportugueses às 06:00 |