Cabete, Adelaide (1867-1935)
Médica, republicana, sufragista e defensora convicta dos ideais feministas, Adelaide de Jesus Damas Brasão Cabete nasceu em Elvas, a 25 de Janeiro de 1867. Durante a sua infância, decorrida no seio de uma família modesta de trabalhadores rurais, dividiu os seus esforços por trabalhos na indústria familiar caseira de secagem de ameixas, trabalhos domésticos ou mesmo trabalhos agrícolas.
Iletrada, Adelaide casa aos 18 anos de idade com Manuel Ramos Fernandes Cabete, republicano culto e sargento do exército que a incentiva a instruir-se. Realiza o exame de instrução primária aos 22 anos, terminando o curso dos liceus aos 27 anos, com distinção.
Ingressa, em 1896, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Lá, aprende a arte da Medicina com figuras ilustres como Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Curry Cabral. Em 1900, já com 33 anos de idade, termina a licenciatura em Medicina com a apresentação da tese “A protecção às mulheres grávidas como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações”, assumindo-se como a terceira mulher a cumprir Medicina em Portugal. Após a conclusão da especialidade, exerce Ginecologia e Obstetrícia no seu consultório, sediado na movimentada e cosmopolita Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Adelaide apela, como médica, aos cuidados materno-infantis, reivindicando a construção da Maternidade Alfredo da Costa, a qual foi inaugurada em 1932. Promove também o acesso à saúde pública, bem como algumas medidas profiláticas contra doenças infecto-contagiosas. Ainda assim, a sua devoção ao exercício médico não a impede de defender os ideais políticos nos quais piamente acreditava. Assim, como politica e presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, reclama a protecção à mulher pobre e à jovem grávida, a erradicação da prostituição e os cuidados na educação das crianças, mostrando-se contrária à prática abortiva. Neste sentido, as variadíssimas obras que publica, ainda em vida, visam apelar à igualdade de direitos entre homens e mulheres e ao direito às condições mínimas de sobrevivência das mulheres. Foi também docente no Instituto Feminino de Educação e Trabalho, tendo leccionado a disciplina de Higiene e Puericultura, em Odivelas.
Nos congressos nacionais e internacionais feministas em que participou, durante a década de 20, divulga o papel da mulher nos vários domínios da sociedade portuguesa.
Em 1929 parte para Angola, onde se empenha na defesa dos direitos dos indígenas e de outras causas justas, sem nunca esquecer a luta pela criação de maternidades e de instituições para crianças.
Em suma, Adelaide Cabete, mulher de bagagem intelectual extensa, foi lutadora ímpar e defensora convicta dos ideais feministas. O seu dinamismo, frontalidade e forte personalidade não a deixaram dormir sobre os louros conquistados. Solidária, bondosa e destemida, não se limitou a teorias, deixando-nos uma vasta obra que se pauta pela sua linguagem clara, simples e objectiva, com aplicação prática.
Adelaide Cabete morre aos 68 anos, a 14 de Setembro de 1935, um ano após ter regressado à capital portuguesa.
Maria Inês Batista, Mariana Barbosa, Rita Benzinho, Sara Moura