Sousa Martins, José Tomaz (1843-1897)

 

 

Reputado médico e professor, nasceu em Alhandra, a 7 de Março de 1843. Marcou a medicina e a sociedade portuguesa do séc. XIX, exercendo uma forte influência sobre os colegas de profissão, alunos e pacientes que tratou. Faleceu aos 54 anos, em Agosto de 1897, atingido pela doença que tanto tentou combater – a tuberculose. Tinha doze anos quando, aconselhado pela mãe e já órfão de pai, foi morar com o seu tio, em Lisboa, ficando a trabalhar na farmácia deste, como aprendiz. Simultaneamente, frequentava o Liceu Nacional de Lisboa.Aos 18 anos de idade, Sousa Martins matriculou-se no Curso médico da Escola Médico - Cirúrgica de Lisboa. Ingressou, também, em Farmácia, um ano depois, na Escola Politécnica de Lisboa, frequentando contemporaneamente os dois cursos.

 

 

Concluiu, com louvores, Farmácia em 1864 e Medicina em 1866, com apenas 23 anos. A sua tese de Licenciatura, O Pneumogástrico Preside à Tonicidade da Fibra Muscular do Coração, viria, mais tarde, constituir, pela sua singularidade e referência, um segmento da grande obra O Pneumogástrico, os Antimoniaes e a Pneumonia. Em 1868 foi nomeado Demonstrador da Secção Médica da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e sócio da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa. Em 1872 foi elevado à categoria de Lente Substituto e em 74, nomeado Médico Extraordinário do Hospital S. José. A acção humanitária exercida junto dos pobres tornou-o num dos médicos mais prestigiados de Portugal. Ganhou, também, prestígio na luta contra a tuberculose, que atingia, então, proporções epidémicas. Neste sentido, em 1881, sugeriu a realização duma expedição científica à Serra da Estrela e a posterior construção de sanatórios destinados à climoterapia e tratamento da Tuberculose nesse local. Escreveu, em 1890, A Tuberculose Pulmonar e o Clima de Altitude da Serra da Estrela.

 

 

Como professor, Sousa Martins é recordado por dar grande importância à componente psicológica e humana da prática médica. Orador brilhante e homem de actividade inesgotável, possuía também um apurado sentido de humor. É relatado que, certo dia, um estudante inexperiente administrava clorofórmio a um doente. Estava trémulo e hesitante. O Mestre, vendo-o naquele estado e desejando incutir-lhe ânimo, disse-lhe, de maneira a que o doente o não ouvisse: ‘Ó homem, não se atrapalhe! Olhe que, na peor das hypotheses, não é o senhor quem morre’. Muitos foram os cargos que desempenhou, de Secretário e Bibliotecário na Escola Médico – Cirúrgica a Director efectivo da Enfermaria S. Miguel no Hospital S. José.

 

Foi Delegado à Conferência Sanitária Internacional de Viena, em 1864 e de Veneza, em 1897, na qual foi eleito Vice - Presidente, regressando a Lisboa muito debilitado fisicamente. Com poucos meses de vida, procurou melhoras no Sanatório da Serra da Estrela que ajudara a criar. Atacado pela tuberculose, pôs fim ao seu sofrimento, suicidando-se nesse mesmo ano. Após a sua morte, no Campo Santana, em frente ao edifício da Escola Médica, foi erguido um monumento à sua memória. Instalou-se, então, um culto à volta da sua figura, como guia espiritual: em vida, ajudou como médico e amigo; presentemente, muitos crêem que continua a zelar pelos carenciados.

 

Francisco Sampaio, Gustavo Mendes, Joana Morais, Vitória Pires

Ilustração: Inês Azevedo

publicado por medicosportugueses às 05:00 |