Jorge, Ricardo (1858-1939)
Médico, humanista, epidemiologista, investigador e sanitarista, nasceu no Porto, a 9 de Maio de 1858 e faleceu em Lisboa a 29 de Julho de 1939. Frequentou a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos, a licenciatura em Medicina. Em 1880 deu início à sua vida profissional na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Em 1883 visitou, em Estrasburgo, laboratórios de Anatomia Patológica, e ainda Paris, onde conheceu o neurologista Charcot. De regresso a Portugal, iniciou um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto.
Começando a dedicar-se mais à Saúde Pública, Ricardo Jorge proferiu quatro conferências em 1884 (A Higiene em Portugal, A Evolução das Sepulturas, Inumação e Cemitérios e Cremação), que lhe conferiram fama e prestígio. Em 1892 foi convidado pela Câmara Municipal do Porto para dirigir os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiar o Laboratório Municipal de Bacteriologia. Em 1895 foi escolhido para Professor Titular da cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Editou, em 1899, Demografia e Higiene da Cidade do Porto, que é ainda hoje uma obra de referência. Entre Junho e Setembro de 1899, o Porto foi invadido pela peste bubónica, por ele diagnosticada e confirmada por especialistas, tendo publicado um relatório sobre esse assunto - A Peste Bubónica no Porto. As medidas que enunciou para a eliminação da peste, (isolamento dos doentes e desinfecção das suas casas) mas principalmente o cordão sanitário imposto pelo Governo, despoletaram a revolta da população, obrigando-o a abandonar a cidade. Chegado a Lisboa, Ricardo Jorge foi nomeado Inspector-Geral dos Serviços Sanitários do Reino e Professor de Higiene na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Fundou, em 28 de Dezembro de 1899, o Instituto Central de Higiene (que a partir de 1929 passou a chamar-se Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) com o intuito de contribuir para a saúde pública dos portugueses através da educação, formação e investigação. Fez parte da organização da Assistência Nacional aos Tuberculosos, iniciada em 1899, e participou no XV Congresso Internacional de Medicina de 1906. Representou Portugal no Office International d’Hygiene Publique, onde se notabilizou.
Em 1913 começou a publicar os Arquivos do Instituto Central de Higiene. Entre 1914 e 1915 presidiu a Sociedade das Ciências Médicas. Em 1918, recomenda diversas medidas para a prevenção da transmissão da pneumónica (ou “gripe espanhola”), que atacou o país e o mundo, tendo afirmado: Não fica mal deixar de visitar enfermos … acabar com os cumprimentos de uso . Representou Portugal no Comité de Higiene da Sociedade das Nações. Em 1929 foi nomeado Presidente do Conselho Técnico Superior de Higiene. Foi autor de inúmeros trabalhos científicos e também de obras de literatura, história da ciência e arte, muitos destes doados à Sociedade de Ciências Médicas, em 1985. Ricardo Jorge, “um homem do conhecimento mas também da acção”, foi considerado um ilustre professor, uma das mais importantes figuras da Saúde Pública em Portugal, tendo, sem dúvida marcado o século XIX.
Belone Moreira, Catarina Cristina, Maria Madalena Borges, Pedro Marques,
Ilustração de Sofia Couto da Rocha