Matos, Júlio (1856-1922)

Distinto psiquiatra português e um dos mais activos reformadores do ensino da Psiquiatria em Portugal, Júlio de Matos concluiu, em 1880, a sua formação em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, com a tese Pathogenia das Halucinações. Definidas com este trabalho inaugural as predilecções do seu espírito, exerceu actividade clínica no Hospital do Conde de Ferreira após a sua abertura, tendo sido nomeado médico-adjunto em 1883. Em 1892, por morte do então director António Maria de Sena, assumiu a direcção do Hospital, cargo que acumulou a partir de 1909 com a direcção do curso de clínica de doenças mentais e a docência de Psiquiatria no Porto. Foi transferido para Lisboa, onde dirigiu o Manicómio Bombarda de 1911 a 1922, tendo ainda sido nomeado para a então criada cátedra de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Lisboa. À sua volta viu sempre reunidos numerosos discípulos, atraídos pelo saber e brilho da sua palavra eloquente. Em quantos tiveram o privilégio de o ouvir deixou a lembrança imperecível de um grande prazer espiritual.

 

 

 

 

 

Entre outros cargos que exerceu, foi professor de Psiquiatria Forense no Curso Superior de Medicina Legal de Lisboa, membro do Conselho Médico-legal e sócio da Sociedade de Ciências Médicas. Foi tão ilustre na sua cátedra como nos seus escritos. Na sua obra destacam-se: Manual de Doenças Mentais, dado à estampa em 1884 e reeditado com considerável desenvolvimento em 1911 sob o título de Elementos de Psychiatria; A Loucura, 1889; Halucinações e Ilusões, 1892; A Paranóia, 1898; Estudos Clínicos e Médico-legais sobre a Loucura, 1899; A Questão de Calmon, 1900; Os Alienados nos Tribunais, 3 vol., 1902-1907; Assistance aux Aliénés, 1903; Amnésia Visual, 1906. Destacam-se igualmente as comunicações apresentadas em 1903 ao XIV Congresso Internacional de Medicina sobre Assistência aos alienados criminosos sob o ponto de vista legislativo e ao XV Congresso Internacional de Medicina, em 1906 com o título de Contribuição ao estudo da amnésia visual. O estilo incisivo, sóbrio e elegante com que redigiu a sua obra colheu o ávido interesse e extraordinário elogio de toda a sociedade médica. Em reconhecimento da sua obra científica foi recebido como sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, pela Société Médico-psychologique e pela Société Clinique de Médecine Mentale. Filantropo de notável vertente humanista e insaciável cultura, dirigiu, juntamente com Teófilo Braga, a revista O Positivismo, denotando uma entusiasta partilha das correntes positivistas. Esta revista é, ainda hoje, um valioso repositório de elementos para a etnologia do povo português.

 

 

A Júlio de Matos se deve igualmente a promulgação do Decreto de 11 de Maio de 1911, tendo essa reforma de assistência psiquiátrica estabelecido a construção de manicómios e colónias em número suficiente para as necessidades ao tempo reconhecidas. De todo o seu nobre plano, viu apenas ser principiado o hospital a que em 1942 foi justamente dado o seu nome, pois ao mais relevante estabelecimento psiquiátrico português competia ter por patrono o mais insigne psiquiatra que Portugal viu nascer.

 

Catarina Palma dos Reis, João Martins, João Pedro Reis, João Mendes

Ilustração: Inês Azevedo

publicado por medicosportugueses às 09:00 |