Ribeiro Sanches, António (1699-1783)
Médico e filósofo português, pensador notável na Europa da época e personalidade importante na renovação do ensino médico em Portugal. Filho de cristãos-novos, toda a vida foi atormentado pela intolerância religiosa. Em jovem, frequentou Medicina em Coimbra, mas rapidamente se fatigou do ambiente obscuro da escola portuguesa e partiu para Salamanca, onde obteve o grau de Doutor em 1724. Regressa, então, a Portugal, mas a sua estadia em solo nacional não seria duradoura: por denúncia de um primo à Inquisição por práticas de judaísmo, é obrigado exilar-se.
Após ter passado por Génova, Londres e França, tendo estudado na reconhecida Universidade de Montpellier, fixou-se na Holanda, onde frequentou a Universidade de Leiden e assistiu a aulas de Hermann Boerhaave, o mais conceituado professor de Medicina do seu tempo.
Em 1731, a pedido da imperatriz Ana Ivanovna da Rússia, Ribeiro Sanches, que havia sido recomendado à corte por Boerhaave, partiu para Moscovo, onde exerceu, durante 2 anos, o cargo de médico-chefe, instruindo barbeiros-cirurgiões, parteiras e farmacêuticos. Foi, mais tarde, em 1735, nomeado médico dos exércitos imperiais. Durante o cerco de Azov, observou que os doentes transferidos para locais arejados recuperavam mais eficazmente, e passou, desde então, a advogar a ventilação dos hospitais, princípio perfeitamente reconhecido e praticado actualmente. A partir de 1740, Ribeiro Sanches passou a desempenhar o prestigiante cargo de médico da corte. Embora não tenha conseguido salvar a imperatriz, muito cresceu a sua reputação, pelo facto de a autópsia ter confirmado o seu diagnóstico de pedras nos rins.
Após a subida ao trono de Isabel Petrovna, Ribeiro Sanches viu-se mergulhado num perigoso clima de conspirações e, em 1747, conseguiu licença para abandonar S. Petersburgo, a pretexto de uma viagem a França que, para ele, foi a fuga da enigmática corte czarista.
Uma vez chegado a Paris, aí permaneceu o resto da sua vida. Nunca esqueceu a sua pátria, tendo transmitido a Portugal as ideias presentes na Europa, por correspondência com o Marquês de Pombal. A pedido deste ministro, devido às repercussões do terramoto de 1755, escreveu o Tratado da Conservação da Saúde dos Povos. Em 1761, remeteu-lhe a ideia inovadora de que, junto de cada escola de Medicina, deveria existir um hospital e defendeu, também, que o estudo da Medicina fosse aliado ao da Cirurgia.
Ribeiro Sanches contribuiu, a pedido de D’Alembert e Diderot, para a Enciclopédia, e cedeu a Buffon importantes informações para a elaboração do 3º volume da sua História Natural. Em 1763, a imperatriz Catarina II da Rússia, concedeu-lhe brasão de armas e uma pensão, como forma de reconhecimento pelo facto de Ribeiro Sanches a ter salvo. Faleceu, em Paris, aos 84 anos, vítima de uma febre intermitente. Ribeiro Sanches foi o protótipo do intelectual do Século das Luzes e a sua vida representativa de um tempo em que a modernidade, apregoada nas suas obras, se debatia com o obscurantismo do tempo passado, visível nas perseguições religiosas de que foi vítima. Pela sua visão modernista e vivência cosmopolita, mais que um grande médico português foi um excelentíssimo cidadão do mundo.
Helena Lages, Luís Fernandes, Miguel Nuno Lourenço Varela, Mónica Silva