Quinta-feira, 21.10.10

Alfredo da Costa, Manuel Vicente (1859-1910)

Manuel Vicente Alfredo da Costa foi um ilustre professor e cirurgião português. Nasceu a 2 de Fevereiro de 1859, em Margão (Estado Português da Índia), mas foi em Portugal que completou a sua carreira académica. O reconhecimento que obteve resultou, especialmente, dos seus estudos e iniciativas no domínio da obstetrícia. Faleceu a 2 de Abril de 1910, sem ter concretizado o seu grande sonho – a construção de uma Maternidade.

 

Alfredo da Costa licenciou-se, em 1884 na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Nesse mesmo ano apresentou a sua tese inaugural e três anos mais tarde, a sua tese de doutoramento, “Sobre a natureza da febre puerperal”.

Em 1885 foi nomeado cirurgião de banco no Hospital de São José, onde foi também director da enfermaria de Santa Maria Ana e onde instalou provisoriamente uma maternidade, iniciando uma orientação para esta área da medicina, a qual lhe veio a conferir o maior reconhecimento público.

 

 

Entre 1887 e 1897, desempenhou várias funções na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa como a de demonstrador de cirurgia, de lente substituto e de regente de Anatomia Patológica e de Obstetrícia.

 

 

Foi Presidente da Sociedade Médica Portuguesa, entre 1905 e 1907, organização onde foi também Vice-presidente e membro benemérito.

Desde sempre procurou ser um interveniente activo na sociedade científica da sua época, dando conferências e fazendo apresentações, entre as quais se destaca, pela sua actualidade e importância do conteúdo, “A protecção às mulheres grávidas pobres”. Foi um dos fundadores da Revista de Medicina e Cirurgia e sócio da Academia das Ciências de Lisboa. Como cultor do jornalismo médico colaborou também no Jornal da Sociedade das Ciências Médicas.

 

É-lhe atribuída a primeira colecistectomia e a operação de Estlander em Portugal, bem como a introdução do método de Volkman na cura do hidrocelo. Distinguiu-se pela notável colaboração médico-social que deu à Rainha D. Amélia na luta contra a tuberculose, tendo presidido à Comissão Técnica de Assistência Nacional aos Tuberculosos.

 

Consciente dos problemas da sociedade em relação à saúde da grávida, projectou a criação de uma unidade hospitalar, que fosse responsável pelos partos e pela saúde preventiva das futuras mães, que lhes ensinasse os cuidados a ter com o bebé e que prestasse ainda assistência aos quadros mais graves dos recém-nascidos. Para além disso, desenhou algumas medidas de prevenção para a patologia das puérperas, ganhando um lugar de destaque perante a medicina social da época.

 

A sua morte precoce, com apenas 51 anos, impediu-o de concluir o seu grande sonho – o de dotar Lisboa com uma maternidade exemplar e moderna. Essa maternidade viria, de facto, a ser inaugurada 22 anos após a sua morte, sendo-lhe atribuído o nome de Maternidade Dr. Alfredo da Costa. Um facto revelador da importância da criação desta maternidade é de que, quase um século depois, ainda estamos longe da multiplicação adequada de instituições deste género, para cobrir as necessidades do país.

 

Cláudia Sousa, Inês Marques, Mariana Agostinho, Sara Martins (imagem de www.scmed.pt)

publicado por medicosportugueses às 20:00 |

Ângelo, Carolina Beatriz (1878-1911)

Carolina Beatriz Ângelo, filha de Emília Clementina de Castro Barreto e Viriato António Ângelo, nasceu a 16 de Abril de 1878, na Freguesia de S. Vicente, situada no distrito da Guarda. Ingressou no Liceu da Guarda, em 1891, revelando-se uma aluna distinta, concluíu o curso em apenas 4 anos. Prosseguiu os seus estudos na Escola Politécnica de Lisboa, a partir de 1895. Em 1897, iniciou a sua licenciatura na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que, em 22 de Fevereiro de 1911, é elevada a Faculdade de Medicina de Lisboa. Terminou o seu curso, em 1902, e casou com Januário Gonçalves Barreto Duarte, seu primo, ilustre médico e republicano. No ano seguinte, nasce a sua filha Maria Emília Ângelo Barreto.

 

Em 1903, apresentou a sua dissertação inaugural “Prolapsos Genitais (Apontamentos) ” e iniciou a sua prática, como a primeira cirurgiã portuguesa, feito notável que contraria a tendência fortemente sexista dos blocos operatórios da época. Especializou-se em ginecologia, dedicando-se intensamente a esta actividade.

 

Paralelamente à sua carreira médica, Carolina Ângelo reforçou a sua visão social com um activismo cívico, político e principalmente feminista acérrimo, defendendo a emancipação da mulher e acreditando em ideias como a educação para a independência e o divórcio, sendo mencionada numa das publicações do “Jornal da Mulher” de “O Mundo” a este respeito. Mostrou-se interessada na inovação dos cuidados de saúde, lutando para um melhor apoio aos médicos e defendendo, neste sentido, a separação da Igreja do Estado. Em 1907, participou na fundação do Grupo Português de Estudos Feministas, conduzido por Ana de Castro Osório, de que foram membros também Maria Veleda e as médicas Sofia Quintino e Adelaide Cabete, com quem se havia cruzado na faculdade. Foi iniciada na Maçonaria, na Loja Humanidade, sob o nome simbólico de Lígia. Dois anos depois, integrou a Assembleia-Geral da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, onde foi eleita Vogal Suplente da Direcção.

 

A 5 de Outubro de 1910, dá-se a Proclamação da República, tendo Carolina Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete sido as responsáveis pela confecção secreta das bandeiras vermelhas e verdes, simbolizando a bem sucedida Revolução. A 14 de Março de 1911, foi publicada a Primeira Lei Eleitoral do Regime Republicano, não sendo explicitado que o direito ao voto estava vedado à mulher. A 1 de Abril, Carolina rsolicitou à Comissão de Recenseamento do Segundo Bairro a sua inclusão nos Cadernos Eleitorais. A decisão foi remetida para o Ministro do Interior, António José de Almeida. A 28 de Maio, votou nas Eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, tendo sido, assim, a primeira mulher a votar, no país e na Europa do Sul. No dia seguinte, imagens e cartas da própria, acerca deste feito, foram publicadas em vários jornais, contribuindo para reforçar a luta das sufragistas. Como consequência, a lei foi alterada, impedindo as mulheres de votar.

 

No dia 3 de Outubro de 1911, morreu de miocardite, aos 33 anos, ao regressar à sua residência da Rua António Pedro S.D., após uma reunião política de “senhoras feministas”.

 

Ana Mota, Filipe Prates, Francisco Borges, João Aquino

publicado por medicosportugueses às 19:30 |

Bettencourt, Aníbal (1868-1930)

Aníbal de Bettencourt nasceu a 21 de Junho de 1868 em Angra do Heroísmo e morreu a 9 de Janeiro de 1930 em Lisboa. Casou com Dídia Clotilde Corte Real Martins (1873-1903), de quem teve Maria Clotilde Corte Real Moniz de Bettencourt (1897-1943) e Nicolau José Martins de Bettencourt (1900-1965). Médico formado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1892, ingressou nesse ano (29 de Dezembro) como médico auxiliar de laboratório no Instituto Bacteriológico de Lisboa onde seguiu os passos de Câmara Pestana. Destacando-se pelo modo exímio como dominava a técnica laboratorial.

 

 

Dos primeiros anos da colaboração entre Bettencourt e Câmara Pestana resultaram os trabalhos sobre a bacteriologia das águas de Lisboa e sobre a epidemia de Lisboa de 1894 e publicou em 1898 um estudo sobre a hemoglubinúria dos bovídeos. Antes de morrer Câmara Pestana recomendou à Rainha D. Amélia o seu colega Aníbal de Bettencourt como a pessoa a nomear para o cargo de director. E assim, a 30 de Novembro de 1899, quinze dias após a morte de Câmara Pestana, Bettencourt foi nomeado Director do Real Instituto Bacteriológico de Lisboa.

 

 

Meses após a morte de Câmara Pestana foi concluído o novo edifício do instituto, no Campo dos Mártires da Pátria, onde Bettencourt organizou a profilaxia anti-rábica, o tratamento da difteria, o fabrico de soros, as análises clínicas e o ensino prático da bacteriologia. Em 1901 foi o chefe da missão médica que se deslocou a Angola com o intuito de estudar a doença do sono, naquele que foi o primeiro trabalho de conjunto, em Portugal, acerca desta grave endemia africana. Em 1902, o Real Instituto Bacteriológico mudou a designação para Câmara Pestana, sendo considerado como o grande centro de estudos da medicina experimental da sua época, muito pelo contributo de Bettencourt, que graças à sua dedicação, simpatia por parte dos pares e do público e serviços prestados à saúde e higiene conseguiu fazer com que o instituto gozasse de prestígio e recursos essenciais para os trabalhos laboratoriais. Iniciou, conjuntamente com os seus colaboradores no instituto, a publicação dos Arquivos do Real Instituto Bacteriológico Câmara Pestana em 1906, revista redigida em francês, com ampla distribuição e que contribuiu grandemente para o instituto ao fomentar a comunicação com entidades estrangeira. Trabalhadores de várias áreas afluíam ao instituto, atraídos quer pelas condições materiais, quer pelo apoio prestado por Bettencourt a quem trabalhava com ele.

 

Devido à reforma do ensino do princípio do século XX, em 1910 a cadeira de Bacteriologia e Parasitologia passou a ser parte do currículo dos estudos médicos, e Bettencourt passou a cumular o cargo de lente catedrático da cadeira. Ao longo da sua vida publicou inúmeros estudos e trabalhos experimentais apesar do tempo investido nas diversas instituições a que pertenceu. Foi membro honorário da Société de Pathologie Exotique, de Paris; presidente da Sociedade Portuguesa de Biologia e da Sociedade de Ciências Naturais assim como um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade Portuguesa de Fotografia, arte que cultivava.

 

Gonçalo Lavareda, Marcel Guerreiro, Raul Colaço, Rita Martins (imagem de www.bparah.azores.gov.pt

publicado por medicosportugueses às 19:00 |

Cabete, Adelaide (1867-1935)

Médica, republicana, sufragista e defensora convicta dos ideais feministas, Adelaide de Jesus Damas Brasão Cabete nasceu em Elvas, a 25 de Janeiro de 1867. Durante a sua infância, decorrida no seio de uma família modesta de trabalhadores rurais, dividiu os seus esforços por trabalhos na indústria familiar caseira de secagem de ameixas, trabalhos domésticos ou mesmo trabalhos agrícolas.

Iletrada, Adelaide casa aos 18 anos de idade com Manuel Ramos Fernandes Cabete, republicano culto e sargento do exército que a incentiva a instruir-se. Realiza o exame de instrução primária aos 22 anos, terminando o curso dos liceus aos 27 anos, com distinção.

 

Ingressa, em 1896, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Lá, aprende a arte da Medicina com figuras ilustres como Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Curry Cabral. Em 1900, já com 33 anos de idade, termina a licenciatura em Medicina com a apresentação da tese “A protecção às mulheres grávidas como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações”, assumindo-se como a terceira mulher a cumprir Medicina em Portugal. Após a conclusão da especialidade, exerce Ginecologia e Obstetrícia no seu consultório, sediado na movimentada e cosmopolita Praça dos Restauradores, em Lisboa.

 

Adelaide apela, como médica, aos cuidados materno-infantis, reivindicando a construção da Maternidade Alfredo da Costa, a qual foi inaugurada em 1932. Promove também o acesso à saúde pública, bem como algumas medidas profiláticas contra doenças infecto-contagiosas. Ainda assim, a sua devoção ao exercício médico não a impede de defender os ideais políticos nos quais piamente acreditava. Assim, como politica e presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, reclama a protecção à mulher pobre e à jovem grávida, a erradicação da prostituição e os cuidados na educação das crianças, mostrando-se contrária à prática abortiva. Neste sentido, as variadíssimas obras que publica, ainda em vida, visam apelar à igualdade de direitos entre homens e mulheres e ao direito às condições mínimas de sobrevivência das mulheres. Foi também docente no Instituto Feminino de Educação e Trabalho, tendo leccionado a disciplina de Higiene e Puericultura, em Odivelas.

 

Nos congressos nacionais e internacionais feministas em que participou, durante a década de 20, divulga o papel da mulher nos vários domínios da sociedade portuguesa.

 

Em 1929 parte para Angola, onde se empenha na defesa dos direitos dos indígenas e de outras causas justas, sem nunca esquecer a luta pela criação de maternidades e de instituições para crianças.

 

Em suma, Adelaide Cabete, mulher de bagagem intelectual extensa, foi lutadora ímpar e defensora convicta dos ideais feministas. O seu dinamismo, frontalidade e forte personalidade não a deixaram dormir sobre os louros conquistados. Solidária, bondosa e destemida, não se limitou a teorias, deixando-nos uma vasta obra que se pauta pela sua linguagem clara, simples e objectiva, com aplicação prática.

 

Adelaide Cabete morre aos 68 anos, a 14 de Setembro de 1935, um ano após ter regressado à capital portuguesa.

 

Maria Inês Batista, Mariana Barbosa, Rita Benzinho, Sara Moura

publicado por medicosportugueses às 18:00 |

Camara Pestana, Luiz da (1863-1899)

Luiz da Camara Pestana nasceu no Funchal a 28 de Outubro de 1863.

 

Em 1876/1877, entrou no Liceu Nacional do Funchal, onde permaneceu até 1882. Nesse ano, chegou a Lisboa, onde frequentou os estudos da Escola Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica. Completou o curso em 1889 com distinção, apresentando a sua dissertação inaugural "O micróbio do carcinoma". Neste ano publicou, n´A Medicina Contemporânea, o seu primeiro artigo crítico "Febre tiphoide".Foi interno do Hospital de São José e posteriormente, sócio da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, por proposta de Bettencourt Rodrigues e Sousa Martins.

A descoberta da vacina anti-rábica, em 1885, por Louis Pasteur e os seus trabalhos sobre doenças contagiosas influenciaram Camara Pestana. Nos dez anos seguintes, Camara Pestana foi reconhecido como uma autoridade no campo das doenças infecto-contagiosas.

 

Com os avanços no tratamento da tuberculose, foi enviado para Paris, em 1891, para estudar bacteriologia. Iniciou investigações sobre o tétano e as suas toxinas, descobrindo a antitoxina tetânica e encerrando os fundamentos da imunização passiva. Este seu estudo representou um dos expoentes máximos da sua vida profissional, e, poderia figurar junto a Behring na história da Ciência.

 

Em 1892, criou o Real Instituto Bacteriológico de Lisboa para administração da vacina anti-rábica. Este mais tarde teria importância no contexto da profilaxia da raiva.

 

Interveio em acções de divulgação, fundando a revista Arquivos de Medicina e publicando em revistas nacionais e europeias, como a Centralblatt fur Bakteriologie und Parasitenkunde.


Em 1894, foi incumbido da investigação do bacilo de uma epidemia febril, em Lisboa, que se pensava ser Cólera. Recorrendo à Microbiologia, refutou tal diagnóstico. Preocupou-se com a contenção de epidemias, defendendo uma reforma na Sáude Pública e iniciou o estudo da “peste bubonica”, em particular na Europa. No mesmo ano, foi encarregue, pela administração do Hospital de S. José, do estudo e tratamento da Difteria.

 

Um ano depois, assumiu o lugar de cirurgião extraordinário das enfermarias do referido hospital.

 

Em 1898, Camara Pestana apresentou uma tese “A Sôrotherapia” e progrediu na carreira, tornando-se regente das cadeiras de Higiene e Medicina Legal e Anatomia Patológica. Nesse ano, fundou, com outros colegas a Associação dos Médicos Portuguezes.

 

No ano seguinte, a peste irrompeu no Porto. Inicialmente diagnosticada por Ricardo Jorge, foi posteriormente confirmada por Camara Pestana e Albert Calmette. No Verão de 1899, Camara Pestana esteve no Porto, assistindo às primeiras autópsias em cadáveres infectados e recolhendo material para aperfeiçoamento da prevenção epidémica.

 

Na procura de reagentes para criar a vacina antipestosa, Camara Pestana voltou ao Porto e infectou-se mortalmente. Já consciente do seu fim, afirmou «A consciência… do dever cumprido… é bastante… Olha… merece a pena ser bom…».

 

Morreu a 15 de Dezembro de 1899.

 

Face à sua morte, houve um pesar generalizado, pelo que se pode afirmar que “a sua morte precoce ao serviço da ciência deu lugar ao herói popular”.

 

Para além do Instituto, construção apoiada pela rainha D. Amélia, o seu nome é ainda recordado em vários prémios de cariz científico.

 

Bruno Sousa, Luís Soares, Marta Soares, Soraia Silva

publicado por medicosportugueses às 17:30 |

Celestino da Costa, Jaime (1915-2010)

Celestino da Costa, Jaime (1915-2010) nasceu a 16 de Setembro de 1915, em Lisboa. Filho do conceituado médico Augusto Celestino da Costa, marcou a Medicina Portuguesa do século XX, pertencendo a várias sociedades científicas nacionais e internacionais, de entre as quais foi sócio fundador e presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia e da Sociedade Portuguesa da Cirurgia Cardiotorácica e Vascular, sócio fundador da Sociedade Europeia de Cirurgia Cardiovascular e Membro Honorário da Society of Thoracic and Cardiovascular Surgery (Grã-Bretanha e Irlanda)

 

Estagiou em Paris na Fundação Curie em 1940, onde realizou parte importante da sua tese de doutoramento. Em 1941, iniciou a sua carreira académica, como Assistente de Medicina Operatória e Anatomia Cirúrgica, tendo passado em 1944 para Assistente do Professor Reynaldo dos Santos em Patologia e Terapêuticas Cirúrgicas.

 

Em 1945, com apenas 30 anos, doutorou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa com a tese “A Parede Arterial”. Iniciou a sua actividade cirúrgica nos Hospitais Civis de Lisboa e chegou a Cirurgião em 1948. Professor Extraordinário de Cirurgia (primeiro de Medicina Operatória, depois de Propedêutica Cirúrgica), iniciou a cirurgia do Pericárdio em 1951 (no Dona Estefânia e depois no Desterro) e, em 1953, a cirurgia do Aperto Mitral e do Canal Arterial, altura pela qual foi nomeado Subdirector do Banco e Serviço de Urgência do Hospital de S. José.

 

Em 1958, foi transferido para o Hospital de Santa Maria exercendo o cargo de Director de Propedêutica Cirúrgica e em 1959 criou o Centro de Cirurgia Cardíaca, ligado ao seu serviço, onde se iniciaram, em Portugal, algumas técnicas cirúrgicas, como a hipotermia profunda.

 

De 1960 a 1962 foi Chefe de Internos, ascendeu a Professor Catedrático de Propedêutica Cirúrgica (1962) e, em 1969, em colaboração com o Professor Salomão Amram, transformou o Serviço de Cardiologia Médica no Serviço de Cardiologia Médico-Cirúrgica. Em 1977, assumiu a regência de Patologia Cirúrgica.

 

Lutou persistentemente por uma Medicina moderna, apoiada na investigação e na inovação técnica, mas sempre de rosto humano e, em 1979, criou o Serviço de Cirurgia Cardiotorácica. Após 44 anos de docência na FML, jubilou-se em 16 de Setembro de 1985, continuando a sua contribuição para a Medicina Portuguesa através da publicação de artigos, entrevistas e livros de cariz médico e histórico, entre os quais “Um Certo Conceito da Medicina” publicado em 2001.

 

Herdou do lado materno a sua veia artística e paixão pela cultura. Foi um humanista que inspirou várias publicações, tendo ainda coleccionado arte. Praticou equitação até aos 80 anos. Era um pianista exímio e profundo conhecedor e amador de Música, talvez devido à sua relação familiar com o compositor Jorge Croner de Vasconcelos.

 

Em Julho de 2005 foi homenageado pela FML e, em Novembro desse mesmo ano, das mãos do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, recebeu a Medalha de Honra da Faculdade. Faleceu no dia 2 de Fevereiro de 2010, em Lisboa.

 

Cláudia Silva, Gonçalo Costa, João Costa, Margarida Massas

publicado por medicosportugueses às 17:15 |

Costa Andrade, Mário Corino da (1906-2005)

Mário Corino da Costa Andrade foi um distinto neurologista e investigador português.

 

Nasceu em Moura (Alentejo), a 10 de Junho de 1906, tendo frequentado o ensino primário no Colégio Particular Maria do Céu, em Beja.

 

Em 1923 entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, então no campo Santana, curso que terminou com 23 anos. Iniciou a sua especialização em Neurologia.

 

Seguindo o conselho do professor catedrático António Flores (1883-1957), decidiu ir estudar para Estrasburgo, em 1931, na Clínica Neurológica dos Hospitais Civis de Estrasburgo, sob a alçada de Jean Barré (1880-1967). Foi nomeado chefe do Laboratório de Naturopatologia, onde fez investigação sobre as meninges e, em 1933,foi-lhe atribuído o prémio Dejerine, até então nunca ganho por um estrangeiro.

 

Em 1936 foi para Berlim trabalhar com Oskar Vogt (1870-1959), mas em 1938 regressou a Portugal, devido ao estado de saúde do pai, que acabaria por morrer nesse ano. Foi então aconselhado pelo Prof. Egas Moniz (1874-1955) a ir para o Hospital Conde de Ferreira, no Porto. Porém em 1939, mudou-se para o Hospital Geral de Santo António.

 

Em 1942 casou com Juliette Suzanne Möes, pediatra luxemburguesa, que conhecera em Estrasburgo. Esta morreu três anos depois, no parto do primeiro filho.

 

No Hospital Geral de Santo António começou a investigar a “doença dos pezinhos”, por ter observado uma mulher com “uma forma peculiar de neuropatia periférica”. Esta doença tomaria, a partir de 1952, com a publicação do artigo “A Peculiar Form of Pheripheral Neuropathy” na revista Brain, o nome de “Polineuropatia Amiloidótica Familiar” ou “Paramiloidose de Corino Andrade”, em sua homenagem. Este tornar-se-ia o paper português mais citado de sempre, até à actualidade.

 

Em 1948 voltou a casar, desta vez com Gwendoline Constance Geething, de quem teve dois filhos. A nível politico, Corino de Andrade era contra o regime de Salazar e pertencia ao Movimento da União Democrática, pelo que viria a ser preso pela PIDE em 1951. Foi libertado alguns meses depois e foi, dez anos depois, eleito Presidente da Sociedade Luso-Espanhola de Neurocirurgia.

 

Seis anos depois criou a primeira Unidade de Traumatologia Crânio-Encefálica (TCE) em Portugal. Em 1974 fundou, juntamente com Nuno Grande (1932), o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, com o intuito de aliar a pesquisa a um estudo multidisciplinar, já que, nas palavras do próprio, “ os alunos não podiam entrar e sair por um tubo”.

 

Em 1976 foi com Paula Coutinho aos Açores para estudar um caso da doença de Machado-Joseph. Em 1979 foi condecorado com o grau de “Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada”, pelo Presidente Ramalho Eanes (1935).Em 1988, a Universidade de Aveiro homenageou o seu trabalho científico, concedendo-lhe o título de “Doutor Honoris Causa” e dois anos depois o Presidente Mário Soares (1924), atribuiu-lhe a “Grã Cruz da Ordem de Mérito”. Em 1995 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos. Em 1999, o Presidente da Câmara de Beja, Carreira Marques (1943), concedeu-lhe a Medalha de Mérito Municipal de Beja - Grau de Ouro, além de atribuir o seu nome a uma rua. Em 2000 recebeu o prémio “Excelência de Uma Vida e Obra”, promovido pela Fundação GlaxoWelcome das Ciências de Saúde. Morreu a 16 de Junho de 2005, aos 99 anos de idade.

 

Cláudia Silva, Eugénia Silva, Leandro Silva, Mariana Soares

publicado por medicosportugueses às 17:07 |

Damas Mora, António (1879-1949)

Nasceu em Rio de Moinhos a 2 de Maio de 1879 e faleceu em Lisboa a 5 de Junho de 1949. Filho de Augusto de Oliveira Mora e Gertrudes Damas, licenciou-se em Medicina em 1901, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, apresentando a tese intitulada “Breves considerações sobre o fórceps como Tractor”; especializou-se mais tarde no ramo da Medicina Tropical. Em Abril de 1896 alistou-se no Exército, como voluntário, e foi colocado em 1902 no Quadro de Saúde de Angola e S. Tomé e Príncipe, onde se dedicou ao estudo da doença do sono. Com efeito, organizou o I Congresso de Medicina Tropical da África Ocidental (1923) e chefiou várias missões de combate ao Paludismo e à Doença do sono. José Norton Mattos (1864-1955) fez um comentário a este congresso em Memórias e trabalhos da minha vida: “O principal fim que tive em vista com este Congresso, foi mostrar ao mundo científico o que se estava fazendo numa colónia portuguesa em matéria de assistência médica aos indígenas. A realização deste congresso marcou, por si só, uma época admirável na história da colonização de Angola. Todos os louvores serão poucos para os distintos médicos que para essa realização concorreram.”

 

 

 

Em 1919 regressou à metrópole e em Outubro de 1920 assumiu as funções de director interno dos Serviços de Saúde do Ministério das Colónias.

Norton de Matos foi governador de Angola entre 1912 e 1915. Na década de 20, foi Alto-comissário também em Angola. É neste período que nomeia o Dr. António Damas Mora como chefe de serviços de saúde em Angola. Teve como tarefa essencial organizar um serviço de assistência médica aos nativos, que até então não tinham a seu préstimo quaisquer serviços de saúde. Em 1928 os seus feitos valeram-lhe a nomeação para governador-geral de Angola, cargo que desempenhou tendo em vista principalmente os cuidados de saúde daquela colónia. A sua actuação vai além de militar e médica, visto que o seu humanismo o leva a participar, em Julho de 1935, na Conferência sobre o Tráfico das Mulheres em Hong Kong; nesta colónia fez parte de uma comissão com fim de estudar os efeitos fisiológicos e psicológicos do fumo do ópio. Em 1936 regressou de vez a Lisboa, onde assumiu o cargo de Director do Instituto de Medicina Tropical.

 

Para além de ser especializado em assistência médica a indígenas, publicou numerosos trabalhos, reconhecidos nacional e internacionalmente.

Do seu espólio fazem partes condecorações como os grandes oficialatos das Ordens de Avis e de Leopoldo I e Leopoldo II da Bélgica; comendas das Ordens da Coroa Belga e do Império Português; e medalhas militares de ouro por comportamento exemplar e de prata de bons serviços.

 

 

Filipa Pinto, Filipa Teixeira, João Almeida, Tiago Gabriel

publicado por medicosportugueses às 17:00 |

Espregueira Mendes, João

Nasceu a 5 de Março de 1960, no Porto, filho de João Espregueira Mendes e Maria Luísa Espregueira Mendes. Licenciou-se em Medicina, em 1985, com 16,0 valores, na Faculdade de Medicina do Porto (FMP). Aprovado por unanimidade na avaliação curricular global no Internato Complementar de Ortopedia e Traumatologia, obteve a classificação de 20,0 valores (1994). Em 1995, realizou provas de Doutoramento em Ortopedia e Traumatologia na FMP sendo aprovado por Unanimidade, Distinção e Louvor, com uma média de 20,0 valores (caso único no país), tornando-se o mais novo doutorado português em Ortopedia, a tese tinha como tema: “ Lesões crónicas do Ligamento Cruzado Anterior”.

 

Em 1991, representou Portugal no 4th Course for Continental Surgeons – Royal National Orthopaedic Hospital, Londres, e obteve o primeiro prémio dos trabalhos apresentados, permitindo-lhe ser o primeiro interno de ortopedia português na Clínica Mayo, EUA.

 

Em 1998, foi nomeado Director e criou de raiz o Serviço de Ortopedia do H. de S. Sebastião e, em 2002, foi aprovado no concurso para o grau de Consultor de Ortopedia da Carreira Médica Hospitalar.

 

Foi monitor de Anatomia da FMP (1984-1988).É Professor responsável pela cátedra do Sistema Locomotor, na Universidade do Minho, Professor na Universidade Fernando Pessoa, na pós-graduação em Reabilitação no Desporto, na FMP, de Ortopedia e Traumatologia e ainda Professor convidado na Universidade de Marmara em Istambul.

 

Impulsionador da “Escola do Porto”, reconhecida internacionalmente na área da traumatologia desportiva. Trouxe pela primeira vez a Portugal o 13th Congress ESSKA2000 Europeu e criou na ESSKA o Prémio – “Cidade do Porto”.

 

Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Artroscopia e Traumatologia Desportiva (2004-2008). Actualmente, é Vice-Presidente da European Society of Knee Surgery, Sports Trauma and Arthroscopy, Vice-Presidente do Education Committee da Internationa lSociety of Knee Surgery and Arthroscopy e membro do Conselho Científico da Sociedade Latino-Americana de Rodilla y Deporte. Em 2012 será Presidente da ESSKA.

 

Apresentou mais de 300 palestras, em Portugal e no estrangeiro, publicou mais de 100 trabalhos científicos, é autor de 10 capítulos de livros científicos nacionais e internacionais e é editor principal dos livros “O Joelho” e “O Ombro”. Ganhou diversos prémios nacionais e internacionais, sendo destacados pelo Professor o Prémio Carlos Lima (1998) e ao Prémio Jorge Mineiro (1995).

 

Conhecido mundialmente pela elaboração de um procedimento cirúrgico (GUT), que consiste no enxerto de cartilagem da articulação tíbio-fibular superior para aplicação na articulação do joelho, desenvolveu ainda um aparelho, Porto Knee Test Device, para medição do grau de lassidão de roturas de ligamentos durante RM e TAC. Em 2009, realizou, no Hospital de São João, oprimeiro transplante meniscal de cadáver, em Portugal, com a colaboração do Prof. J. C. Monllau, de Barcelona.

 

Amante do ténis, mergulho e da poesia, tem como premissa “Somos aquilo que fazemos, sobretudo o que fazemos para melhorar aquilo que somos”, revelando como objectivo pessoal a implementação de um Instituto Publico de Traumatologia Desportiva em Portugal. E a criação do museu cidade do Porto dedicado aos Descobrimentos e Arte Indo - Portuguesa.

 

Ana Rita Nércio, Ana Rita Gano, João Ulrich, Nuno Pina Gonçalves

publicado por medicosportugueses às 16:52 |

Fonseca, Fernando da Conceição (1895-1974)

Nascido em Lisboa, a 26 de Abril de 1895, Fernando da Conceição Fonseca destacou-se como um dos mais ilustres médicos portugueses da sua geração. O segundo de quatro filhos do casal de professores Tiago dos Santos Fonseca e Tomázia Adelaide de Macedo Fonseca, permaneceu na capital durante grande parte da sua vida.

Após a passagem pelos Liceus da Lapa e Pedro Nunes, seguiu-se o curso, em 1912, na Faculdade de Medicina de Lisboa, no Campo de Santana. No decorrer da sua formação, teve reconhecidos médicos como professores, entre os quais Egas Moniz (1874-1955), Ricardo Jorge (1858-1939) e Curry Cabral (1844-1920).

 

Em 1917, ainda bacharel, Fernando Fonseca alistou-se no Corpo Expedicionário Português e prestou serviço na Flandres até ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), regressando à pátria laureado. Fernando Fonseca entrou como assistente na primeira clínica do Hospital de Santa Marta, sob a orientação do Professor Pulido Valente (1884-1963), mestre e amigo pessoal. A tese inaugural intitulada ‘Contribuição para o estudo do Colesterol’, adiada pela incorporação militar, é feita em 1920, com classificação de 19 valores. Três anos depois, partiu para um estágio em Berlim, onde aperfeiçoou as suas técnicas laboratoriais e tomou contacto com a medicina moderna que emergia da Europa.

 

Em 1924, regressou a Portugal, retomando a sua actividade assistencial no Hospital de Santa Marta. Em 1929, foi aprovado no concurso de provas públicas para médico dos Hospitais Civis de Lisboa e colocado no serviço de tuberculose do Hospital Curry Cabral. No mesmo ano, casou com Maria da Graça Silva, sua colega de curso. Um ano mais tarde, publicou o livro Diabetes Mellitus. Já em 1932 e 1933, contribuiu para a investigação do bacilo de Koch, no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, tendo sido galardoado com o prémio do mesmo nome.

 

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conduziu importantes estudos de investigação relativos a doenças infecto-contagiosas (malária, meningite meningocócica e rickettsioses). Por esta altura, conheceu Calouste Gulbenkian (1869-1955), com quem criou uma profunda relação de amizade. Em 1943, foi aprovado no concurso para Professor Catedrático de Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina de Lisboa.

 

Já em 1947, numa reunião do Movimento da Unidade Democrática, proferiu um discurso contundente no qual destacou o atraso do Sistema de Saúde de Portugal. Este acto valeu-lhe uma represália política, por parte de Salazar, que o exonerou de todos os cargos públicos.

 

Nos anos que se seguiram, continuou os seus estudos de investigação, tendo deixado uma extensa obra de publicações científicas. Até ao final da sua vida não abandonou o exercício da Medicina, realizando mesmo consultas sem a cobrança de honorários.

 

Após uma semana de intensa actividade clínica, a 20 de Julho de 1974, uma repetição de enfarte do miocárdio pôs termo à sua vida exemplar. Dos 79 anos vividos, 50 foram dedicados à Medicina, durante os quais se notabilizou pela vertente humanista que abraçou até ao fim dos seus dias.

 

Os seus valores e notável personalidade permanecem na nossa sociedade através da homenagem prestada pela atribuição do seu nome ao Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, tornando-se o patrono do Hospital Amadora Sintra.

 

Maria Velho, Rafaela Pereira, Raquel Pereira, Ricardo Moço

publicado por medicosportugueses às 16:45 |

Garcia de Orta (1501-1568)

Garcia de Orta nasceu, em 1501, em Castelo de Vide, distrito de Portalegre. Os seus pais, Fernando Isaac de Orta e Leonor Gomes, eram judeus, tendo sido expulsos de Espanha em 1492 pelos Reis Católicos.

 

Estudou em Espanha, nomeadamente em Salamanca e Alcaná de Henares. Tirou o Bacharelato em Artes e licenciou-se em Medicina e Filosofia Natural. Foi durante o seu percurso universitário que surgiu o interesse pelo estudo de plantas medicinais.

 

Por volta de 1523, regressa a Portugal para exercer medicina na cidade onde nasceu tornando-se, mais tarde, médico de D. João III, em Lisboa. Aí conhece o ilustre matemático (e também cristão novo) Pedro Nunes.

 

Concorre três vezes ao lugar de professor na Universidade de Lisboa, sendo-lhe atribuído o cargo de Professor de Filosofia Natural, em 1530. Respeitado pelos alunos e com uma grande paixão pelo conhecimento, Garcia da Orta salienta a importância da observação e dos sentidos para a realização de novas descobertas.

 

Apesar de ter sido eleito deputado do Conselho Universitário, a 12 de Março de 1534, procurando e não encontrando um lugar onde houvesse espaço para a experimentação, de forma a poder satisfazer a sua mente curiosa, decide então partir para a Índia. Embarcou como médico pessoal de Martim Afonso de Sousa, um amigo que fora nomeado vice-rei da Índia. Em Goa, familiariza-se com a literatura médica da Índia e com a grande variedade de plantas, animais e resinas utilizadas para tratar doentes. É, também, nesta cidade que estabelece amizade com o ainda desconhecido Luís de Camões, que lhe dedicou alguns poemas. Posteriormente, como recompensa dos seus serviços, o vice-rei entrega-lhe o foro de Bombaim. Mandou, então, construir um jardim botânico. Por volta de 1541 casa-se com Biranda de Solis.

 

Em Abril de 1563, publica a sua notável obra “Colóquios dos Simples e Drogas he Cousas Medicinais da Índia” incidindo esta no estudo de espécies de plantas da Índia e as suas aplicações na Medicina. Nesta obra, constituída por 58 Colóquios, Garcia de Orta estabelece um diálogo com Ruano, amigo imaginário ao qual expoe as suas investigações. Para além do seu enorme valor científico, o  livro conta, ainda, com a primeira poesia impressa de Luís de Camões. É de salientar que foi o primeiro registo científico de plantas do Oriente feito por um europeu. Foi traduzido para várias línguas, sendo a versão mais conhecida um resumo em latim da autoria de Charles L’Eccluse.

 

Em 1568, em Goa, morre de sífilis e embora nunca tenha tido directamente problemas com a Inquisição, a 4 de Dezembro de 1580 os seus ossos foram desenterrados e queimados em auto de fé juntamente com exemplares do seu livro. Actualmente podemos encontrar um hospital em Almada com o seu nome e também uma Escola Secundária no Porto.

 

Ana Sofia Lopes, Diogo Luz, Marta Lopes, Wilson Liu

publicado por medicosportugueses às 16:30 |

Gentil Martins, António

Nasceu em 10 de Julho de 1930 (Lisboa) e tem 8 filhos. O avô, Francisco Gentil, foi o fundador do Instituto Português de Oncologia (IPOFG) e o irmão Francisco Gentil Martins, foi director deste mesmo Instituto e Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Licenciou-se em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1953 e fez o Curso de Ciências Pedagógicas. Após o Internato nos Hospitais Civis de Lisboa, em 1956 rumou a Inglaterra como Bolseiro do Instituto Britânico tendo trabalhado em Londres e em Liverpool. Dedicou-se à Cirurgia Pediátrica, à Cirurgia Plástica e à Oncologia Pediátrica.

 

Em 1960 criou a primeira Unidade Multidisciplinar de Oncologia Pediátrica a nível mundial no IPOFG de Lisboa, sendo pioneiro na quimioterapia pré-operatória e nas nefrectomias parciais em tumores renais unilaterais e nas metastectomias. Nesse campo foi Conselheiro temporário da OMS. Foi reconhecido como Especialista, pela Ordem dos Médicos em Cirurgia Plástica em 1964 e em Cirurgia Pediátrica em 1972. Trabalhou em Oncologia Pediátrica no IPOFG, foi consultor de Cirurgia Pediátrica na Maternidade Dr. Alfredo da Costa e foi Chefe de Serviço de Cirurgia Pediátrica (durante 34 anos) e Director do Departamento de Cirurgia (durante 14 anos) no Hospital Pediátrico de D. Estefânia, em Lisboa. Realizou mais de 12000 intervenções cirúrgicas entre as quais se contou a separação de 7 pares de gémeos siameses, com 9 sobreviventes, o que lhe valeu fama mundial. É autor de múltiplas publicações originais, tendo realizado mais de 200 comunicações. ( em 83 cidades de 22 países ) Foi Conferencista convidado em inúmeras Reuniões, e Congressos, nacionais e internacionais ( em 37 cidades de 17 países ), e promoveu Cursos de pós-graduação.

 

Foi fundador e é Membro de Honra das Sociedades Internacionais de Oncologia Pediátrica Médica e Cirúrgica, bem como Membro de outras importantes Sociedades Médicas Internacionais. Foi Bastonário da Ordem dos Médicos (1977-1986), Presidente da Associação Médica Mundial (1979-1983), Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (1995-1997) e Fundador e Presidente da Secção Portuguesa do Colégio Internacional de Cirurgiões. É Membro de Academia Portuguesa de Medicina. Teve importante acção social e humanitária, sendo fundador da Acreditar (Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro) e Membro da Direcção da 1ª Direcção da Federação Internacional respectiva ( ICCCPO ), do IAC ( Instituto de Apoio à criança ), do CAVITOP (Centro de Apoio a Vítimas de Tortura), da AMI ( Assistência Médica Internacional ), Fez parte do Grupo de Trabalho da União Europeia para o ensino da Ética Médica. Foi agraciado com a medalha de ouro do Ministério da Saúde e com a Medalha de Honra da Ordem dos Médicos. Em 2009, recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, possui as Chaves da Cidade de Miami e do Condado de Dale (USA) e é Membro de Honra da AMI, CNAF. E LPCC ( Liga Portuguesa Contra o Cancro ).

 

Nas actividades desportivas foi introdutor do Badminton em  Portugal e conquistou vários títulos nacionais – Voleibol, Ténis, e Tiro (participando em 1960 nos Jogos Olímpicos de Roma), sendo Presidente da Associação dos Atletas Olímpicos Portugueses (AAOP) (2003-2012). Tocou violino e foi fundador da Juventude Musical Portuguesa. Aos 80 anos, continua a ser uma das vozes activas em todos os temas relacionados com a defesa da vida e os Direitos Humanos, e, apesar de se ter aposentado em 2000, mantém uma vida cirúrgica activa.

 

Ana Luísa Ferreira, Rafael Oliveira, Ricardo Silva, Sónia Silva

publicado por medicosportugueses às 16:00 |

Gentil, Francisco (1878-1964)

Médico e professor português nascido em Alcácer do Sal, a 27 de Fevereiro de 1878, filho de António Gentil e de Maria Soares Branco Gentil. Frequentou o Liceu das Portas de Santo Antão e em 1895 estudou na Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, obtendo grande distinção na cadeira de Anatomia. Entre 1895 a 1898, foi preparador de Anatomia juntamente com os professores Serrano e Alfredo da Costa e nomeado externo do Hospital de S. José, terminando o curso com média final de 16 valores e tese de licenciatura intitulada A Apendicite. Foi interno nos Hospitais Civis de Lisboa, trabalhando no Hospital de S. José e no isolamento do Hospital de Arroios. Entre 1897-1903 frequentou as consultas de Oftalmologia, Pediatria, Otorrinolaringologia e Ginecologia e tornou-se chefe de Clínica Cirúrgica. Em 1905, foi nomeado Demonstrador da Secção Cirúrgica, dirigindo o teatro anatómico e, um ano depois, primeiro Secretário da Sociedade de Ciências Médicas na qual promoveu diversas conferências. Entre 1908-1910, foi promovido a lente substituto da Secção Cirúrgica e regeu Patologia Cirúrgica, Clínica Cirúrgica e Obstetrícia. Nesse último ano, foi nomeado Vogal do Conselho Médico-Legal tentando instalar no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (onde frequentara o primeiro curso de Bacteriologia) o primeiro centro oncológico português, feito que só viria a concretizar mais tarde. Em 1911, foi promovido a Regente da cadeira de Medicina Operatória e transferido para o Hospital Escolar de Santa Marta no mesmo ano em que foi inaugurada a Faculdade de Medicina no Campo Santana. Um ano depois, foi nomeado Director do Hospital de S. José, tendo sido transferido para Patologia Cirúrgica em 1915, cargo que viria a exercer durante duas décadas. Em Julho (1915), foi eleito director da Faculdade de Medicina de Lisboa, pedindo a demissão seis meses depois. Continuou, no entanto, a leccionar nesta faculdade até 1947.

 

 

Especializou-se em Oncologia nos E.U.A. e em 1923 fundou o Instituto Português de Oncologia tornando-se pioneiro no tratamento do cancro com a divisa “o enfermo em primeiro lugar”. Celebra aniversário da primeira operação, realizada a 4 de Agosto de 1898, operando com um bisturi de ouro oferecido pelo corpo de enfermagem do Instituto de Oncologia. Em sua homenagem, a Escola Técnica de Enfermeiras do Instituto Português de Oncologia (1940) passou a ser designada Escola Superior de Enfermagem Francisco Gentil. No ano seguinte, passou a reger Clínica Cirúrgica, sendo eleito presidente da Sociedade de Ciências Médicas. Participou, ainda, em diversos congressos internacionais.

 

 

Jubilou-se a 27 de Fevereiro de 1948, e em 1951, eleito Presidente de Honra do Congresso da União Internacional de Cancerologia. Na inauguração do Hospital de Santa Maria, foi condecorado com a Grande Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, recebendo posteriormente o grau de Doutor Honoris Causa. Morreu a 13 de Outubro de 1964 de doença prolongada, deixando um enorme legado tanto científico de publicações e de conduta médica para as gerações vindouras.

 

Ana Rute Marques, Inês Barros, Joana Antunes, Marta Melo (imagem de www.scmed.pt)

publicado por medicosportugueses às 15:00 |

Jordão, José Guilherme (1951-2003)

José Guilherme Lopes Pereira Jordão, nascido em Leiria a 8 de Janeiro de 1951, destacou-se como principal pioneiro da especialidade de Medicina Geral e Familiar em Portugal. Fundou a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral. É reconhecido pela sua acção na Educação Médica, em geral e nos cuidados médicos ao nível da pré e pós graduação, em particular.

 

Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa (FML) em 1976, realizando o seu internato no Policlínico do Hospital de Santa Maria e leccionando como docente convidado na Escola de Enfermagem de Calouste Gulbenkian e na Escola Técnica de Enfermagem (ETE). Após ter concluído, em 1981, o Serviço Médico à Periferia na Azambuja, concorreu ao internato de especialidade de Clínica Geral. Foi eleito representante do Grupo de Internos de Clínica Geral da Zona Sul, contribuindo para a organização do primeiro internato complementar de Medicina Geral, no qual se realizavam cursos para os pós-graduados. Prestou igualmente apoio técnico à carreira de Clínica Geral no Gabinete do Secretariado de Estado de Saúde.

 

Concluiu o internato em 1984, com distinção, tornando-se especialista em Clínica Geral pela Ordem dos Médicos. A par dos cargos descritos, foi Director do Instituto de Clínica Geral da Zona Sul e, em 1990, membro da Comissão Internacional de Revisão do Ensino Médico. Neste contexto, defendeu que a estrutura do curso de medicina deveria ser de 5 anos mais um de profissionalização.

 

Doutorou-se em Medicina pela FML em 1993, «tardio pelo perfeccionismo que punha em tudo o que fazia» nas palavras de João Martins e Silva. Subordinado ao titulo A Medicina Geral e Familiar – caracterização da prática e sua influência no ensino pré-graduado que mereceu posteriormente a sua publicação.

 

Em 1994, tornou-se membro do Departamento de Educação Médica na FML. Dois anos depois passou a Professor Auxiliar Convidado e Regente de Clínica Geral e Medicina Comunitária. Co-coordena, a nível nacional, o projecto-piloto “Mandatory Training Periods – Guidelines for a new Approach”, que integrou sete escolas médicas da Europa.

 

Em 1998 foi docente de cursos de Formação de Formadores em Saúde Reprodutiva para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, em África (Moçambique e São Tomé), com Madalena Folque Patrício. Em 1997 concluiu o Mestrado em Educação Médica organizado pela FML, recebendo  em simultâneo o Diploma in Medical Education  pelo College of Medicine da University of Wales,. Em 2001 integrou o júri dos prémios Pfizer.

 

Segundo António Pais de Lacerda, José Guilherme Jordão incentivou colegas e alunos a transformar o mundo do ensino médico. Não hesitava «esgrimir contra gigantes e fantasmas do passado», sublinhando que o ensino e a aprendizagem não deviam ser apenas adequados, mas também úteis e divertidos. Para João Gomes-Pedro, José Guilherme Jordão define-se com sete “S”: Sereno, Seguro, Sagaz, Secreto, Solícito, Solidário e Sério, ao qual adiciona «Simples e Sábio». Acrescenta, descrevendo uma conversa entre ambos, a propósito do quotidiano, uma frase que o marcou: «Sabe Professor, é que eles não olham para dentro…».

 

Como recorda Madalena Folque Patrício, José Guilherme Jordão é o «símbolo de competência, rigor e ética», para quem o lema era «small is beautiful».

 

Ana Sofia Ramos, Andreia Ribeiro, Carolina Ribeiro, Maria Ana Rafael

publicado por medicosportugueses às 14:30 |

Jorge, Ricardo (1858-1939)

Médico, humanista, epidemiologista, investigador e sanitarista, nasceu no Porto, a 9 de Maio de 1858 e faleceu em Lisboa a 29 de Julho de 1939. Frequentou a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos, a licenciatura em Medicina. Em 1880 deu início à sua vida profissional na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Em 1883 visitou, em Estrasburgo, laboratórios de Anatomia Patológica, e ainda Paris, onde conheceu o neurologista Charcot. De regresso a Portugal, iniciou um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto.


Começando a dedicar-se mais à Saúde Pública, Ricardo Jorge proferiu quatro conferências em 1884 (A Higiene em Portugal, A Evolução das Sepulturas, Inumação e Cemitérios e Cremação), que lhe conferiram fama e prestígio. Em 1892 foi convidado pela Câmara Municipal do Porto para dirigir os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiar o Laboratório Municipal de Bacteriologia. Em 1895 foi escolhido para Professor Titular da cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Editou, em 1899, Demografia e Higiene da Cidade do Porto, que é ainda hoje uma obra de referência. Entre Junho e Setembro de 1899, o Porto foi invadido pela peste bubónica, por ele diagnosticada e confirmada por especialistas, tendo publicado um relatório sobre esse assunto - A Peste Bubónica no Porto. As medidas que enunciou para a eliminação da peste, (isolamento dos doentes e desinfecção das suas casas) mas principalmente o cordão sanitário imposto pelo Governo, despoletaram a revolta da população, obrigando-o a abandonar a cidade. Chegado a Lisboa, Ricardo Jorge foi nomeado Inspector-Geral dos Serviços Sanitários do Reino e Professor de Higiene na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Fundou, em 28 de Dezembro de 1899, o Instituto Central de Higiene (que a partir de 1929 passou a chamar-se Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) com o intuito de contribuir para a saúde pública dos portugueses através da educação, formação e investigação. Fez parte da organização da Assistência Nacional aos Tuberculosos, iniciada em 1899, e participou no XV Congresso Internacional de Medicina de 1906. Representou Portugal no Office International d’Hygiene Publique, onde se notabilizou.

 

 

Em 1913 começou a publicar os Arquivos do Instituto Central de Higiene. Entre 1914 e 1915 presidiu a Sociedade das Ciências Médicas. Em 1918, recomenda diversas medidas para a prevenção da transmissão da pneumónica (ou “gripe espanhola”), que atacou o país e o mundo, tendo afirmado: Não fica mal deixar de visitar enfermos … acabar com os cumprimentos de uso . Representou Portugal no Comité de Higiene da Sociedade das Nações. Em 1929 foi nomeado Presidente do Conselho Técnico Superior de Higiene. Foi autor de inúmeros trabalhos científicos e também de obras de literatura, história da ciência e arte, muitos destes doados à Sociedade de Ciências Médicas, em 1985. Ricardo Jorge, “um homem do conhecimento mas também da acção”, foi considerado um ilustre professor, uma das mais importantes figuras da Saúde Pública em Portugal, tendo, sem dúvida marcado o século XIX.

 

Belone Moreira, Catarina Cristina, Maria Madalena Borges, Pedro Marques,

Ilustração de Sofia Couto da Rocha

publicado por medicosportugueses às 14:00 |

Lacerda, José Caetano Sousa Pereira (1861 - 1911)

Nasceu na Ilha de São Jorge. Filho de Maria Silveira de Sousa e de João Caetano de Sousa e Lacerda, influente político e proprietário de inúmeros bens. A família Lacerda teve uma grande importância na história dos Açores, apresentando naturalidades muito dispersas, desde a ilha do Pico, como é o caso dos seus avós paternos João Caetano de Sousa e Lacerda e Maria Utília Forjaz de Lacerda, até à ilha de S. Jorge de que são exemplo os seus avós maternos Manuel Joaquim Marques Brasil e Rosa Silveira. José Lacerda era o mais velho de quatro irmãos, dos quais se viria a destacar na área musical o seu irmão mais novo, Francisco Inácio Lacerda. Passou a sua infância em contacto íntimo com a Natureza e quando ainda era adolescente, foi viver para a ilha Terceira, onde estudou no Liceu de Angra do Heroísmo.

 

Em 1892, casou com Maria Doroteia Sousa, que acabou por falecer com tuberculose casando-se novamente em 1897 com Estefânia Beatriz Sousa. Em 1894 José Lacerda concluiu a formação na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Ainda na capital exerceu Medicina no Hospital de São José e foi assistente de Doenças Mentais no Hospital de Rilhafoles. Em 1895, concluiu a sua tese de final de curso Os Neurasténicos, que abordava a doença mental de uma forma.

 

Publicou artigos em vários periódicos como nos Arquivos de Medicina, onde escreveu sobre Hipnologia, na Medicina Contemporânea, no Jornal da Sociedade de Ciências Médicas, na Alma Social, n´A Justiça e n´A Luta. Aos 27 anos publicou duas obras poéticas, Hecatombe e Flor de Pântano que, embora não lhe trouxessem grande prestígio, fizeram com que ficasse conhecido como escritor de “poesia científica”.

 

Em 1901, concorreu a Professor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, escrevendo em cinco semanas Esboços de Patologia Social e ideias sobre Pedagogia geral, onde reflecte tudo quanto existia de mais moderno sobre o “mal-de-viver”. Ainda no mesmo ano foi eleito deputado às Cortes por Angra do Heroísmo, pelo Partido Regenerador, participando activamente na legislatura de 1902-1904.

 

Em 1909, faleceu a sua segunda mulher, igualmente vítima de tuberculose. Dois anos mais tarde e pela mesma enfermidade, morre José Lacerda aos 50 anos de idade, na sua casa no Estoril.

 

Fábio Teles, Maria Carolina Carvalho, Tiago Souto, Tomás Pessoa e Costa

publicado por medicosportugueses às 13:30 |

Lima Leitão, António José de (1787-1856)

António José de Lima Leitão nasceu em Lagos (Algarve), a 17 de Novembro de 1787. Em 1808 foi nomeado cirurgião ajudante do regimento de Infantaria de Faro, partindo pouco depois para França, integrado na Legião Portuguesa organizada por Junot. Aperfeiçoou-se como médico na Escola de Medicina de Paris, até que em 1812 é nomeado Chefe Cirurgião no Alto Comando Imperial de Napoleão.

 

Terminadas as Guerras Napoleónicas, volta a Portugal, ano de 1814, onde é mal recebido: o serviço prestado às ordens das tropas de Napoleónicas é visto como uma traição à pátria; o que, alegadamente, terá motivado a sua partida para o Brasil. Em 1816, é nomeado por D. João VI, físico-mor da capitania de Moçambique, saindo do Brasil, onde regressará, em fins de 1818. Em meados do ano seguinte, parte para Goa como Intendente Geral da Agricultura e também como físico-mor.

 

Após triunfo da Revolução Liberal, assume um papel de relevo na implantação do novo regime do qual é grande apoiante, no Estado da Índia, sendo um dos motores do processo revolucionário que conduz ao afastamento do poder e subsequente prisão, do vice-rei Diogo de Sousa. Este é substituído pela Junta Provisional do Governo do Estado da Índia, do qual, inicialmente, Lima Leitão faz parte. No entanto, este acaba por ser afastado da Junta e, posteriormente, preso, por se manifestar contra esta. Mais tarde, a Junta provisional é substituída por uma outra da qual Lima Leitão faz parte e na qual se assume como um dos líderes mais activos. Em 1823 regressa a Lisboa, como deputado eleito às cortes, pelo Estado Português da Índia.

 

Dois anos depois, em 1825, é nomeado lente de clínica médica, na EscolaRégia de Cirurgia Médico-Cirúrgica de Lisboa, então estabelecida no Hospital de S. José.

 

Pioneiro da medicina homeopática em Portugal; foi também um dos fundadores da Sociedade das Ciências Médicas, seu presidente, desde 1838 até 1842 e presidente da sua Comissão de Saúde Pública entre 1844 e 1846. Ganhou fama pela qualidade dos conhecimentos clínicos que transmitia aos seus alunos e pela introdução da prática das autópsias como método de avaliação dos actos clínicos e de aprendizagem médica.

 

A sua actividade literária processou-se durante aproximadamente 21 anos. Colaborou em várias publicações periódicas, onde demonstra uma actividade política por vezes intensa e polémica. Os anos de 1813 e 1854 balizam o período mais forte da sua actividade como escritor, a desenvolver-se em vários domínios: medicina (casos clínicos, novas terapêuticas e manuais de ensino), literatura (como tradutor e poeta), política e até um trabalho na área da manutenção das vinhas.

 

Figura controversa é envolvido como se viu em várias polémicas, ganhando alguns inimigos ao longo do seu percurso político, acaba por cair em desgraça em termos profissionais no ano de 1853, quando tenta implementar na Escola Médico-Cirúrgico de Lisboa o ensino da homeopatia, sem sucesso.

 

Cavaleiro da Ordem de Cristo, foi também membro de várias academias científicas e literárias de Portugal, Brasil, França e Espanha.

 

Morre a 8 de Novembro de 1856 na Rua dos Correeiros (mais vulgarmente conhecida, na altura, como a Travessa da Palha), em Lisboa.

 

Patrícia Pereira, Rui Santos, Tiago Santos

publicado por medicosportugueses às 13:15 |

Lopes Henriques, Joaquim Manuel

Filho de José Manuel e de Maria Lopes Henriques, nasceu a 1 de Fevereiro de 1951, na Lourinhã, , ingressando no curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 1968. Terminou o mesmo em 1974 com uma classificação final de 14 valores, iniciando o Internato Policlínico no Hospital de São José. Convocado, em Fevereiro de 1977, para o serviço militar na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, concluiu-o já colocado no Hospital Militar Principal (HMP). Em 1979, entrou nos Quadros Permanentes do Exército e, em 1983, já como Capitão Médico, passou a exercer a função de Assistente Hospitalar de Cirurgia, em regime de disponibilidade permanente, no HMP. Viajou, em 1984, para Leeds, Reino Unido, para frequentar um estágio de Cirurgia do cólon orientado pelo Prof. T. de Dombal no University Hospital of Leeds. Foi nomeado Honorary Research Fellow to the World Organization of Gastroenterology Research Committee – no período em que decorría o estágio –, tendo-se familiarizado com as técnicas do programa de Diagnóstico da Dor Abdominal Aguda e participado na actividade hospitalar orientada para a terapêutica de patologia do cólon, bem como em dois projectos de investigação. Foi nomeado, em 1985, Chefe do Serviço de Urgência e Coordenador Cirúrgico da Unidade de Tratamentos Intensivos do HMP, tendo sido, no mesmo ano, aprovado como Especialista pela Ordem dos Médicos.

 

Em 1988, foi destacado para comandar o Serviço de Saúde da 1ª Brigada Mista Independente. Dois anos mais tarde, foi colocado no Serviço de Cirurgia do HMP e, em 1991, nomeado Chefe de Serviço. Como Tenente-Coronel, desempenhava as funções de Chief Medical Officer na missão UNPROFOR da ONU, na Bósnia-Herzegovina, em 1993. Ao prestar provas de Doutoramento em Cirurgia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (FCM), em 1998, foi “Aprovado por unanimidade com distinção e louvor”. No ano seguinte, passou a desempenhar funções de professor da cadeira de Cirurgia na FCM. Destacou-se como um dos principais impulsionadores dos cursos de Saúde Militar da Academia Militar (AM). Foi, em 1999, nomeado como 1º Director desses cursos e passou a integrar, na AM, os Conselhos Académico e Pedagógico e a Comissão de Acompanhamento de Protocolo entre a FCM e a AM. Passou a exercer, em 2001, como Coronel Médico, o cargo de Subdirector do Serviço de Saúde do Exército e, um ano mais tarde, de Subdirector do HMP. Atinge o auge da sua carreira militar ao ser promovido a Major-General, em 2005, exercendo a função de Director do HMP nos 4 anos seguintes.

 

Em 2009, toma a função de Director do Serviço de Saúde do Exército até à sua entrada na reserva activa, a 1 de Fevereiro de 2010. Ao longo da sua carreira, publicou 32 trabalhos como autor e co-autor em várias revistas médicas nacionais e estrangeiras. Participou em cerca de 140 reuniões médicas nacionais e internacionais. Tem 2 livros traduzidos e é coordenador editorial de um tratado de Cirurgia, no qual participou com 3 capítulos e a tradução de um capítulo.

 

Alexandra Coelho, Eunice Parcelas, Luís Duarte

 

publicado por medicosportugueses às 13:00 |

Lusitano, Amato (1511-1568)

Judeu português, médico e escritor do século XVI. Nasceu em Castelo Branco, em 1511, baptizado como João Rodrigues. Aos 14 anos foi estudar Medicina para Salamanca, exercendo clínica em dois hospitais aos 18 anos. Regressou a Portugal em 1531, trabalhando em Lisboa. 1533/1534 marca o início da vida errante pela Europa (devido à Inquisição) onde desenvolveu obras importantes. Até 1541 viveu em Antuérpia onde adoptou o nome de Amato Lusitano e escreveu o seu primeiro livro “Index Dioscoridis” (1536). Viveu em Itália (1541-1547), onde foi professor de Anatomia na Universidade de Ferrara. A sua obra mais conhecida resulta da compilação dos trabalhos desenvolvidos entre 1541 e 1561. “Centúrias das Curas Medicinais”, publicada pela primeira vez num volume completo postumamente, em Léon,, em 1580. Cada «Centúria» consiste em 100 casos clínicos descritos pormenorizadamente, com informações sobre os doentes, doenças e tratamentos prescritos. Conheceu João Baptista Canano e descreveu pela primeira vez as válvulas venosas através da inspecção das veias ázigos (1547). Deslocou-se a Roma para prestar serviços médicos ao Papa Júlio III e sua família. Em Ancona publicou “Tratamento das estenoses uretrais” (1552), com que alcançou grande notoriedade. Entre 1556 e 1558 viveu na República Independente de Ragusa, hoje Dubrovnik (Croácia), fora da alçada da Inquisição, onde escreveu a Sexta Centúria e os tratados “In Dioscorides de Medica materia Librum quinque enarrationis” e “Curationium Centuriae Septem”. A partir de 1558 viveu em Tessalónica no Império Otomano (actual Salónica, Grécia). A Sétima Centúria, última do conjunto, data de 1561 e inclui o “Juramento de Amato”. Morreu em 1568, aos 57 anos, durante uma epidemia de peste, enquanto prestava cuidados aos doentes.

 

Amato Lusitano foi o primeiro a estudar cientificamente as plantas ibéricas, contribuindo para a Biologia, Farmacopeia e Botânica Médica. Pioneiro na abordagem clínica da sexologia descreveu pormenorizadamente os órgãos genitais masculinos e femininos; a reprodução (gravidez; desenvolvimento embrionário; parto e aborto; doenças mais frequentes na grávida); algumas doenças venéreas e terapêutica; e casos de indefinição da vivência sexual tanto de natureza física como emocional.

 

Desenvolveu novos instrumentos e técnicas. Alguns autores atribuem-lhe a invenção e descrição de uma prótese para a abóbada palatina cujo registo da aplicação em doentes é da autoria de Ambroise Paré.

 

Esta obra, um importante contributo para a compreensão da sociedade europeia do século XVI, foi traduzida para 59 línguas. Em 1946 inicia-se a edição das obras de Amato, em Portugal, pelo Instituto Português de Oncologia, com tradução de Firmino Crespo e José Lopes Dias. Amato foi um verdadeiro homem da Renascença. Humanista e naturalista quebrou fronteiras nos campos médico e científico, pelas suas qualidades de observador perspicaz e clínico experiente, mas também fronteiras culturais e sociais através dos seus valores de tolerância e respeito pelo Homem. Descrito por Max Solomon como “o Homem que representa a Medicina do Século XVI, como erudito, anatomista e clínico”deixou às gerações seguintes não só conhecimentos sobre o passado mas uma importante mensagem de crença no progresso e no futuro.

 

Paula Antunes, Cátia Loureiro, Joana Castro, Rui Gerardo

 

 

 

publicado por medicosportugueses às 12:00 |

Machado Macedo, Manuel Eugénio (1922-2000)

Nasceu a 10 de Fevereiro de 1922, na cidade de Ponta Delgada. Filho de Manuel Machado Macedo e de Maria Eugénia Machado Macedo fez os seus estudos liceais no Colégio Francês, em Lisboa, acabando por ingressar no curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa, que concluiu em 1946. Inicialmente dedicou-se ao estudo da medicina interna. Porém, devido à doença da sua mulher interessou-se pela patologia respiratória e cardiocirculatória. Este interesse levou-o até à Suiça (1946-1947), onde estudou problemas ligados às doenças do tórax e simultaneamente foi assistente de W. Loffler na Universidade Médica do Hospital Cantonal de Zurique. De regresso a Portugal, iniciou em 1948 o internato geral e complementar de Cirurgia Geral nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL), tendo-o concluído em 1951. A sua exigência e profissionalismo requeriam novos conhecimentos no estrangeiro, daí que no Outono de 1951 tenha concorrido à bolsa de estudo do British Council e no ano seguinte tenha iniciado um estágio de três anos que lhe proporcionava as bases da sua formação em cirurgia Cardiotorácica. Regressou em1954 integrando a equipa de Jaime Celestino da Costa, com a qual já tinha contactado durante o seu curso e internato. Pouco tempo depois, concorreu e foi aprovado para o cargo de assistente de cirurgia torácica dos HCL.

 

Em 1960 iniciou a cirurgia de coração aberto com Hipotermia de Superfície nos HCL e em 1962 a cirurgia do coração aberto, com circulação extracorporal. Ascende ao cargo de Director do Serviço de Cirurgia Torácica dos HCL em 1969. Entre 1978 e 1984 torna-se Presidente do Colégio de Cirurgiões Torácicos da Ordem dos Médicos, é eleito Director Clínico do Hospital de Santa Marta e ascende ao cargo de Director dos serviços de Cardiologia e de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Cruz. Para além destes cargos em Agosto de 1979 tornou-se Professor Extraordinário de Cirurgia Cardiotorácica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (FCM/UNL). Em 1985 torna-se Presidente do Conselho de Gerência do Hospital de Santa Cruz e no mesmo ano é Professor Catedrático Convidado da FCM/UNL. Ainda nesse ano é também Director do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Maria e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa.

 

Em Fevereiro de 1987 é aprovada com distinção e louvor a sua tese de doutoramento: Revascularização do Miocárdio. Foi bastonário da Ordem dos Médicos entre 1987 e 1992. Acumulou outros cargos como presidente do Comité Permanente dos Médicos da União Europeia, Presidente da Associação Médica Mundial, fundador e presidente da Sociedade Portuguesa Cardiotorácica e Vascular, fundador e Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, e foi membro de algumas sociedades científicas internacionais com grande prestígio. De entre os mais de 250 artigos e livros publicados a sua derradeira obra é a História da Medicina Portuguesa no Século XX, publicada em 2000, ano também da sua morte a 21 de Maio.

 

Cláudia Mata, Heitor Amador, Patrícia Martins, Sara Pardal

publicado por medicosportugueses às 11:00 |

Marques, José António (1822-1884)

Filho de António Emídio Marques e de Catarina d’Assunção Marques, nasceu a 29 de Janeiro de 1822, em Lisboa e morreu a 8 de Novembro de 1884. Concluiu, aos 20 anos, o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e, no mesmo ano, 1842, por decreto de Agosto deste ano, foi nomeado cirurgião-ajudante e colocado no Batalhão de Caçadores nº 30. Foi Cirurgião Mor no Regimento de Infantaria nº7 e em 1851 foi graduado em Cirurgião de Brigada do Exército, passando a desempenhar as funções de Sub Chefe da Repartição de Saúde do Estado Maior General. Como colaborador do Jornal dos Facultativos Militares, José António Marques ajuda a mudar a direcção do jornal, dotando-o de um carácter mais científico. Sob o subtítulo Jornal dos Facultativos Militares, Escoliaste Médico, torna-se o primeiro jornal da especialidade do País. Em 1854 publica o seu primeiro livro: Elementos de higiene militar, ou colecção de assuntos e preceitos de higiene, que interessam ou são indispensáveis a todos os que se dedicam à profissão militar. Representa Portugal, em 1857, no Congresso de Oftalmologia em Bruxelas, onde apresenta a sua primeira memória: Aperçu historique de l’ophtalmie militaire portugaise que foi laureada conferindo-lhe um diploma de Doutor em Medicina, Cirurgia e Partos, pela Universidade de Bruxelas.

 

 

 

Em 1862 publica a sua segunda memória: Encore l’ophtalmie militaire en Portugal, et du traitement qu’on y emploie contre les granulations palpébrales, suite au mémoire presenté au congrés d’ophtamologie de Bruxelles en 1857 ao mesmo tempo que representa Portugal na Sociedade Universal de Oftalmologia em Paris. No ano de 1864 representa Portugal na Conferência Internacional em Genebra onde propõe a extensão da convenção a todos os feridos independentemente da sua classificação e também aos militares doentes, mesmo não feridos. Graças aos seus esforços, Portugal assina a 1ª Convenção de Genebra, tornando-se num dos países fundadores da Cruz Vermelha. No seguimento desta conferência, em 1865, reuniu pela primeira vez a «Comissão Portuguesa de Socorros a Feridos e Doentes Militares em tempo de guerra», organização predecessora da Cruz Vermelha. Cinco anos depois, é destituído do cargo da direcção do Serviço de Saúde Militar. Perante esta situação, abandona o serviço, passando ao inactivo por doença, reformando-se em 1870. Para além dos serviços prestados à sua pátria, instituiu a Casa de Saúde Lisbonense, foi Presidente e membro honorário da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e fundador e director da primeira policlínica de Lisboa.

 

Ao longo da sua vida recebeu inúmeras condecorações, das quais se destacam: Comendador da Ordem de S. Bento de Avis, Grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, Medalha de Prata de valor Militar, Medalha da Cruz Vermelha Francesa. Morreu a 8 de Novembro de 1884 em Lisboa, quase em esquecimento, apesar do seu contributo em especial à classe da cirurgia militar a que pertencia e à medicina, mas também à Cruz Vermelha portuguesada qual foi seu grande impulsionador.

 

Cláudia Santos, Inês Azevedo, Joana Carreno, Tiago Coelho

Ilustração Inês Azevedo

publicado por medicosportugueses às 10:00 |

Matos, Júlio (1856-1922)

Distinto psiquiatra português e um dos mais activos reformadores do ensino da Psiquiatria em Portugal, Júlio de Matos concluiu, em 1880, a sua formação em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, com a tese Pathogenia das Halucinações. Definidas com este trabalho inaugural as predilecções do seu espírito, exerceu actividade clínica no Hospital do Conde de Ferreira após a sua abertura, tendo sido nomeado médico-adjunto em 1883. Em 1892, por morte do então director António Maria de Sena, assumiu a direcção do Hospital, cargo que acumulou a partir de 1909 com a direcção do curso de clínica de doenças mentais e a docência de Psiquiatria no Porto. Foi transferido para Lisboa, onde dirigiu o Manicómio Bombarda de 1911 a 1922, tendo ainda sido nomeado para a então criada cátedra de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Lisboa. À sua volta viu sempre reunidos numerosos discípulos, atraídos pelo saber e brilho da sua palavra eloquente. Em quantos tiveram o privilégio de o ouvir deixou a lembrança imperecível de um grande prazer espiritual.

 

 

 

 

 

Entre outros cargos que exerceu, foi professor de Psiquiatria Forense no Curso Superior de Medicina Legal de Lisboa, membro do Conselho Médico-legal e sócio da Sociedade de Ciências Médicas. Foi tão ilustre na sua cátedra como nos seus escritos. Na sua obra destacam-se: Manual de Doenças Mentais, dado à estampa em 1884 e reeditado com considerável desenvolvimento em 1911 sob o título de Elementos de Psychiatria; A Loucura, 1889; Halucinações e Ilusões, 1892; A Paranóia, 1898; Estudos Clínicos e Médico-legais sobre a Loucura, 1899; A Questão de Calmon, 1900; Os Alienados nos Tribunais, 3 vol., 1902-1907; Assistance aux Aliénés, 1903; Amnésia Visual, 1906. Destacam-se igualmente as comunicações apresentadas em 1903 ao XIV Congresso Internacional de Medicina sobre Assistência aos alienados criminosos sob o ponto de vista legislativo e ao XV Congresso Internacional de Medicina, em 1906 com o título de Contribuição ao estudo da amnésia visual. O estilo incisivo, sóbrio e elegante com que redigiu a sua obra colheu o ávido interesse e extraordinário elogio de toda a sociedade médica. Em reconhecimento da sua obra científica foi recebido como sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, pela Société Médico-psychologique e pela Société Clinique de Médecine Mentale. Filantropo de notável vertente humanista e insaciável cultura, dirigiu, juntamente com Teófilo Braga, a revista O Positivismo, denotando uma entusiasta partilha das correntes positivistas. Esta revista é, ainda hoje, um valioso repositório de elementos para a etnologia do povo português.

 

 

A Júlio de Matos se deve igualmente a promulgação do Decreto de 11 de Maio de 1911, tendo essa reforma de assistência psiquiátrica estabelecido a construção de manicómios e colónias em número suficiente para as necessidades ao tempo reconhecidas. De todo o seu nobre plano, viu apenas ser principiado o hospital a que em 1942 foi justamente dado o seu nome, pois ao mais relevante estabelecimento psiquiátrico português competia ter por patrono o mais insigne psiquiatra que Portugal viu nascer.

 

Catarina Palma dos Reis, João Martins, João Pedro Reis, João Mendes

Ilustração: Inês Azevedo

publicado por medicosportugueses às 09:00 |

Moreno, Óscar (1878-1971)

Óscar Moreno, conceituado urologista, filho de José Lourenço Russo e Lucinda de Sousa Martins Ribeiro, nasceu no Porto, freguesia de Vitória, a 16 de Novembro de 1878. Casou com Deolinda Leopoldina dos Santos a 6 de Julho de 1912, nascendo a sua única filha Margarida Dos Santos Moreno a 11 de Abril de 1917. Dedicou-se à área de urologia em Portugal e no estrangeiro, antes de falecer a 16 de Abril de 1971, onde havia nascido.

 

Fez os estudos na escola Médico-Cirurgica do Porto. De 1908 a 1911, ainda estudante foi para Paris, trabalhou nas Clínicas de Venereologia dos Hospitais de S. Luís Saint Lazare bem como monitor do Serviço de Vias Urinárias na Clínica Urológica do Hospital de Necker associado à Faculdade de Medicina de Paris. Aqui, com Dr. Léon Ambard, dedicou-se à exploração funcional dos rins, que culminou na descoberta da constante Ureio-Secretória de Ambard-Moreno, que avalia a eliminação ureica.

 

Publicou também vários artigos: Des injections de pâte bismuthée en chirurgie urinaire (Ann. Maladies des organes génito-urinaires, 1910) e Volume des urines et contraction maxime (Presse Médicale, 1911), com colaboração de Heitz-Boyer. Em parceria com Ambard publicou Mesure de l’activité rénale par l’étude comparée de l’urée dans le sang et de l’urée dans l’urine (Semaine Médicale, 1911) e com Chevassu escreveu Comparaison du fonctionnement rénal avant et après la néphrectomie par tuberculose (Rev.de Gynec. et Chirurgie Abdominale 1911).

 

De regresso ao Porto terminou o curso com a dissertação inaugural Sobre Exploração Funcional dos Rins, a 12 de Outubro de 1911 com classificação de 20 valores.

 

Moreno entrou como adjunto em urologia, para o corpo Clínico do Hospital Geral de Santo António, onde esteve sob orientação do Professor Roberto Frias, ficando em 1916 a dirigir a Consulta Externa de Vias Urinárias. Depois de tutoriar vários médicos estagiários no seu serviço, a 25 de Março de 1917 foi proposto pelo Conselho da Faculdade de Medicina do Porto para substituir Azevedo de Albuquerque na regência da cadeira de Clínica Urológica, cuja aprovação foi concedida em despacho ministerial em 7 de Junho desse ano. Em 1919, Moreno fundou a consulta de Urologia e Venereologia, no Hospital Geral de Santo António, cujo pleno funcionamento se iniciou em 1923-24, prolongando-se até hoje.

 

Até à sua Jubilação a 5 de Novembro de 1948, Óscar Moreno permaneceu na regência da Cadeira de Clínica Urológica, bem como na direcção dos Serviços de Urologia do Hospital Geral de Santo António. Durante este período orientou várias teses de fim de curso, foi membro da Associação Portuguesa de Urologia e da Association Internationale d’Urologie, tendo publicado ainda Hérnia inguinal da bexiga com calculose (colaborando com Sousa Oliveira, em Medicina Moderna, 1912) Sobre um caso de hidronefrose (colaboração com Álvaro Rosas, Congresso Luso-Espanhol, 1923); Cálculo gigante do uretere (colaboração com Jacinto de Andrade, Amato Lusinato, 1945).

 

Do percurso científico de Moreno destaca-se a “constante de Ambard- Moreno” que, embora hoje obsoleta devido à utilização de coeficientes numéricos arbitrários, impulsionou variadas investigações nomeadamente por McLean, que afinou o valor da constante para indivíduos saudáveis.

 

Ana Rita Amaro, Inês Pereira, Miguel Mata, Mónica Mamede

publicado por medicosportugueses às 08:52 |

Nobre, Fernando

Actual presidente da AMI, nasceu em Luanda, a 16/12/1951. Filho de José Alves Ribeiro Nobre e de Maria Alice de La Vieter Nobre, é o primeiro médico da família. Sempre quis seguir a carreira de docente universitário ou de “médico de mato”, como o próprio afirma.

 

Mudou-se para Kinshasa em 1963, por opção do seu pai, onde viveu até 1966, quando se mudou para Bruxelas. Aqui frequentou a Universidade Livre de Bruxelas, onde se licenciou em Medicina. Especializou-se em Cirurgia Geral e posteriormente em Urologia, especialidade que lhe permitiu ser o primeiro médico português a ganhar o prémio internacional de Urologia. Leccionou as disciplinas de Anatomia e Embriologia no Hospital Universitário de Bruxelas.

 

Casou pela primeira vez em Bruxelas, onde nasceram os dois primeiros filhos. Visitou Portugal em 1975, onde voltou a casar e onde nasceram os dois filhos mais novos.

 

Trabalhava há um ano quando se inscreveu, em 1978, nos Médicos Sem Fronteiras, tendo participado em reuniões e tendo feito a sua primeira missão em Fevereiro de 1981, no Irão, quando já ia avançado na sua especialização em cirurgia.

 

Em 1983 Barata Feyo perguntou-lhe se estaria interessado em fundar uma instituição semelhante aos Médicos Sem Fronteiras em Portugal, ideia da qual saiu a fundação da AMI. Esta instituição foi fundada em Portugal, a 5 de Outubro de 1984, ainda Fernando Nobre se encontrava em Bruxelas. Um ano depois, mudou-se para Portugal para dar corpo ao seu projecto, impedindo que este se afundasse como uma instituição meramente política e legal, segundo as palavras do próprio.

 

Começou por fundar uma instituição com um objectivo de assistência médica internacional mas actualmente a AMI tem também uma vertente social, ambiental e de direitos humanos. Para a fundação da AMI contou, nos seus primórdios, apenas com o apoio da sua irmã. Os apoios externos chegaram quando a instituição começou a apresentar resultados.

 

Participou em mais de 250 missões de estudo, coordenação e assistência humanitária, como cirurgião, em mais de 70 países. A par do seu trabalho na AMI tinha um consultório privado, no qual dava consultas quando se encontrava em Portugal.

 

Desempenhou inúmeros cargos associados à medicina e à política, tendo-se candidatado a presidente da república em 2010, como independente, com o melhor resultado alguma vez conseguido por um político na sua situação.

 

Aos 50 anos encerrou a carreira clínica, deixou de ser o técnico, dedicando-se actualmente à parte administrativa da AMI e sendo professor catedrático convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

 

Durante o seu percurso escreveu vários livros e recebeu vários prémios, entre os quais o de Doutor Honoris Causa da FML, Medalha de Ouro dos Direitos Humanos da Assembleia da República e a Legião de Honra de França.

 

Defende que a Medicina é “uma das profissões mais lindas do mundo, se soubermos integrar o conhecimento técnico-científico com a componente humanitária”.

 

É, segundo as suas palavras, “um embondeiro plantado algures numa ilha mítica do Mediterrâneo”. Será sempre recordado como o médico e fundador da AMI, bem como o ex – candidato às presidenciais.

 

Alexandra Castelo, Bruno Silva, Gonçalo Gerardo, Ricardo Gomes

publicado por medicosportugueses às 08:45 |

Oliveira, Idálio de (1912-1997)

Idálio de Oliveira nasceu a 14 de Fevereiro de 1912, em Aveiro e faleceu a 8 de Outubro de 1997, em Lisboa.

 

Formado em Medicina, especializado em Radiologia e Radioterapia pela Universidade de Lisboa, foi pioneiro na instalação de tecnologias de diagnóstico e tratamento de cancro na Península Ibérica.

 

Frequentou os cinco anos de estudos secundários do Liceu de Aveiro e terminou o sétimo ano em Coimbra. Aos vinte e dois anos completou a formação em Lisboa e iniciou o internato médico nos Hospitais Civis, onde adquiriu a sua especialidade.

 

Em 1946 abriu o seu consultório, a clínica Dr. Idálio de Oliveira, ainda hoje em funcionamento (IRIO - Instituto de Radiologia Dr. Idálio de Oliveira). Ali montou a primeira Bomba de Cobalto, o primeiro Acelerador Linear, o primeiro aparelho de TAC e o primeiro aparelho de Ressonância Magnética da Península Ibérica. Foi igualmente pioneiro na técnica de Angiografia digital em Portugal.

 

Paralelamente, continuou o seu trabalho nos Hospitais Civis, tendo sido nomeado director de Radiologia do Hospital dos Capuchos em 1956, cargo que exerceu durante dezanove anos.

 

Dedicou sessenta anos à Medicina, quarenta dos quais aos Hospitais Civis e ao seu consultório, estabelecendo transferências de doentes entre os dois locais, para aplicação de exames com equipamentos por si adquiridos, suportando o custo dos mesmos. Afirmava, aliás, que o seu empreendimento não visava nenhum lucro material «(…) muito pelo contrário – só me poderá dar consolação se, através dele, conseguir minorar de maneira eficiente a dor e sofrimento dos meus semelhantes. Disso tenho fundadas esperanças!»[1] .

 

Ainda no âmbito oficial, exerceu durante vários anos prática clínica no campo da Radioterapia no IPO de Lisboa, a convite do Prof. Francisco Gentil (1878-1964).

 

Médico atento, procurou sempre estabelecer um contacto pessoal próximo com todos os seus doentes. Destacava-se ainda pela inigualável perspicácia no diagnóstico, apoiando-se quase exclusivamente no exame radiológico.

 

O seu profissionalismo reflectia-se, de igual modo, num grande empenho no estudo, ao qual dedicava várias horas diárias, o que lhe permitia uma constante actualização, relativa aos avanços da Medicina. O seu vasto conhecimento e experiência levavam a que, frequentemente, fosse convidado para ministrar palestras, a nível nacional e internacional.

 

Apesar de possuir, na opinião de amigos e conhecidos, qualidades enquanto pessoa que não eram suplantadas pelas profissionais, a entrega total à sua vida profissional, levou a que nunca tivesse casado ou constituído família.

 

Pela sua competência, generosidade e dedicação, teve o reconhecimento de doentes, colegas e órgãos governamentais. Foi condecorado pelo General Ramalho Eanes com a Ordem Militar de Sant’Iago de Espada, em 1983. Dez anos depois recebeu, na sessão inaugural do VIII congresso Nacional de Medicina, uma medalha de mérito da Ordem dos Médicos.



[1] Palavras proferidas pelo Dr. Idálio de Oliveira na cerimónia de inauguração do Primeiro Acelerador Linear Montado em Portugal, em 16 -12-1972.

 

Beatriz Pinto, Filipe Pires, Inês Oliveira, Rui Pereira

publicado por medicosportugueses às 08:37 |

Queiros e Melo, João Manuel

Nasceu em Tomar em 1945. Veio para Lisboa, onde ingressou no curso de Medicina da Universidade de Lisboa (1968), tendo escolhido esta carreira por influência do seu avô, também médico. Optou pela especialidade de Cirurgia Geral nos Hospitais Civis de Lisboa e de Bissau, terminando-a em 1974. Prosseguiu os estudos, fazendo a especialidade de Cirurgia Cardiotorácica, no Hospital de Santa Marta, com o Professor Machado Macedo (1979). Durante este período passou por Londres (Reino Unido), Portland e Boston (EUA) de modo a enriquecer a sua formação.

 

Voltou em 1979, ano de abertura do Hospital de Santa Cruz e juntamente com os Professores Machado Macedo e Ricardo Seabra Gomes, ajudou a criar e a desenvolver este hospital. Aqui desempenhou vários cargos, desde Director de Serviço de Cirurgia Cardiotorácica a Director do Hospital (1990/95). Ao aceitar este último cargo, deixou de exercer nos Hospitais da CUF e no Hospital Particular de Lisboa, onde trabalhou desde 1982. Foi também no Hospital de Santa Cruz que, a 18 de Fevereiro de 1986, realizou o primeiro transplante de coração em Portugal. Dois anos mais tarde foi condecorado Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada pelo seu feito.

 

Em 1990 patenteou o anel de valvuloplastia aórtica e quatro anos depois os anéis de plastia mitral e tricúspida ajustáveis externamente. Doutorou-se em 1992, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese Aloenxertos Valvulares. Ainda durante este ano, foi aprovado o programa Ciência, o que lhe permitiu dedicar-se mais à investigação no âmbito da fibrilhação auricular. Em 2001, partiu para a Universidade de Leiden, onde efectuou as primeiras cirurgias utilizando radiofrequência bipolar. Em 2002 esteve no Hospital de San Raffaelle (Milão) onde desenvolveu técnicas de reconhecimento de arritmias auriculares por electrogramas intracavitários.

 

Pertence a várias sociedades científicas das quais se destacam aquelas em que ocupou cargos directivos: European Society of Cardiology, Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardiotorácica e Vascular e Sociedade Portuguesa de Cardiologia, sendo o membro fundador do European Community Cardiac Surgery Society e da Sociedade Portuguesa de Transplantação. Do seu trabalho de investigação resultaram inúmeros artigos publicados em revistas internacionais, sendo um dos principais: Electrosurgical treatment of atrial fibrilhation with a new intraoperative radiofrequencey ablation catheter (1999), citado em 2002 nas recomendações sobre o tratamento cirúrgico da fibrilhação auricular, e publicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, American College of Cardiology e American Heart Association. Foi ainda distinguido com dois prémios PFIZER (1984 e 1997), um INTERMEDICS (1987) e um prémio Nunes Correa Verdades de Faria (1988), em conjunto com a equipa de transplantação cardíaca do Hospital de Santa Cruz. Actualmente, é o Director de Serviço de Cirurgia Cardiotorácica no Hospital de Santa Cruz, Professor Catedrático do grupo de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas. Continua a fazer investigação, sendo o seu artigo mais recente: Restoring sinus rhythm in patients with previous pacemaker implantation submitted to cardiac surgery and concomitant surgical ablation of atrial fibrillation (2008).

 

Filipa Silva, Helder Alves, Rita Abelho, Sara Custódio

publicado por medicosportugueses às 08:30 |

Ramos de Almeida, José Miguel

Filho de Manuel Ramos de Almeida e de Maria Isabel Espinosa de los Monteros. Nasceu a 30 de Maio de 1930, em Lisboa. Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa (1954), com as notas mais altas, do seu ano e do ano anterior, em Clínica Médica e Pediatria. Acabou o curso com uma média de 15,4. Em 1956 iniciou o internato geral de medicina nos Hospitais Civis de Lisboa. Em 1957, impelido pelo nascimento do seu filho Miguel, decidiu-se pela carreira de pediatria. Obteve o título de médico pediatra em 1959 e realizou os internatos intermédio e complementar da mesma especialidade no hospital de Santa Maria até 1961. Durante este período frequentou como bolseiro da OMS, os hospitais pediátricos de Toronto, Boston e Nova Iorque. De 1961 a 1963 serviu no Ultramar, onde fundou e dirigiu a unidade de pediatria no Hospital Militar de Luanda, sendo ainda chefe do serviço de doenças infecto-contagiosas e assistente do serviço de Clínica Médica. Em 1963, trabalhou  no serviço de pediatria do Hospital da Cidade do Cabo.

 

 

Em 1964 regressou a Portugal, iniciou o ensino de pediatria como assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa e foi  responsável pela unidade de recém-nascidos do hospital de Santa Maria. Em 1971 tornou-se assitente de pediatria e de puericultura da maternidade Dr.Alfredo da Costa. Foi membro da comissão instaladora da mesma instituição (1974-1978), de cujo serviço de pediatria foi director (1975-1996). Enquanto exerceu neste hospital, a mortalidade dos recém-nascidos baixou cerca de 75%.

 

 

Em 1980, foi contratado como professor associado convidado de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Nessa mesma faculdade, doutorou-se em 1987, recebeu o título de professor agregado em 1991 e de professor catedrático em 1993. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria (1979-1981) e do Conselho Técnico do Instituto de Apoio à Criança (1987-1988), do qual foi fundador. De 1995 a 1998, foi presidente do Conselho Disciplinar Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Em 1997 foi eleito académico de número da Academia Portuguesa de Medicina.

 

Apresentou mais de 180 comunicações científicas em reuniões nacionais e internacionais, e publicou 106 trabalhos científicos, entre os quais The Lancet, Archives of disease in childhood (UK), Pediatrics (USA) e Acta Pediatrica Escandinavia. Colaborou no Dicionário Enciclopédico de Medicina (1975), Ser o Mesmo e Ser o Outro (1994) e In Memoriam de Fernando de Abranches Ferrão (1995), que coordenou. Publicou numerosos artigos de opinião e é autor de diversos livros entre os quais, Vício de Pensar (1998). Recebeu o prémio «Memorial Arce-Sánchez Villares» (2000), atribuído anualmente pela Sociedade de Pediatria de Astúrias, Cantábria, Castela e Leão. Actualmente exerce no seu consultório, em Lisboa. “Ando nesta vida desde 1959. Tratei muitos milhares de crianças e atravessei muitas situações dramáticas que não posso (nem quero) esquecer e recordo acordado ou em sonho, quase diariamente.”, Do Sótão das Memórias.

 

Bruna Meira, Joana Gonçalves, Rita Veríssimo (imagem de www.josemiguelramosdealmeida.pt)

publicado por medicosportugueses às 08:15 |

Rêgo, João (1957-2007)

Neto do médico António Balbino Rêgo,  nasceu a 1 de Janeiro de 1957, em Algés, onde passou a sua infância, sendo o único rapaz dos três filhos de João Balbino Rêgo e Palmira da Purificação Fonseca Rêgo. Estudou na Escola Alemã de Lisboa, tendo prosseguido os seus estudos no Liceu Nacional de Cascais (1972-1974), terminando com média de 19 valores. Partiu para França em 1975 na sequência do encerramento temporário das Universidades portuguesas no pós-25 de Abril (1974-1975), onde continuou os seus estudos na Faculdade de Medicina de Montpellier (1975-1981), tendo concluído a licenciatura em Medicina na Faculdade de Medicina de Toulouse a 4 de Fevereiro de 1985. Foi interno dos Hospitais da Universidade de Toulouse, cargo alcançado após concurso público (15º entre 534 candidatos). Nesta universidade exerceu também funções de assistente de Semiologia Médica, Nefrologia e Reumatologia. Titular dos diplomas franceses das especialidades de Reumatologia (1985) e de Nefrologia (1987), obteve a respectiva equivalência em Portugal (1985), acabando por se fixar em Montemor-o-Novo, após 12 anos em França.

 

O regresso deveu-se à saudade e ao facto de ter terminado, em Setembro de 1987, o seu posto a “título estrangeiro” no Hospital Universitário de Toulouse. A escolha de Montemor-o-Novo deveu-se, essencialmente, à proximidade de Estremoz, onde se centrava um núcleo de filosofia portuguesa radicado no Alentejo e do qual fazia parte. Em Montemor-o-Novo desempenhou as funções de clínico geral no Centro de Saúde da cidade entre 1987 e 1988; a partir desta data exerceu apenas clínica privada. Colaborou também com empresas sociais – Abrigo dos Velhos Trabalhadores de Montemor-o-Novo, Associação 29 de Abril – e empresas privadas (Lar Quinta da Ponte). Numa vida marcada por interesses filosóficos e fortes preocupações com a componente social, João Rêgo, motivado pelo seu espírito curioso e impulsionador, tentou sempre, à sua escala, cumprir o seu dever cívico. Pertenceu à Assembleia Municipal de Montemor, eleito numa lista de independentes (Movimento Cívico Pró-Montemor), que concorreu em 2001. Foi também um dos 11 fundadores da Associação 29 de Abril e um dos fundadores da Casa João Cidade, instituições de solidariedade e apoio a pessoas com deficiência mental, área que sempre mereceu a sua imensa dedicação e empenho. Fundou também a empresa Melhor Trabalho, em 1997, na perspectiva de se dedicar à Medicina do Trabalho, especialidade que havia tirado em 1996.

 

Apaixonado pela aviação, tirou as licenças de planador e ultraleve. Foi instrutor de voo de ultraleves e impulsionador da pista de aviação da Amendoeira, Montemor-o-Novo. Tinha também como principais interesses a Cultura e a Filosofia. Dessa paixão resultou, em 1992, a publicação da antologia intitulada A Medicina em Álvaro Ribeiro. Publicou ainda, em 2007,Contos da Coluna do Meio. Casado e pai de 3 filhos, João Rêgo faleceu a 4 de Julho de 2007, em El Alamo (Espanha), vítima de um acidente de aviação num ultraleve. João Rêgo, o “médico do povo”, ficará para sempre na memória do povo montemorense pois, como o próprio afirmou: “A morte não destrói, apenas torna invisível” (Outubro de 1993).

 

Ana Catarina Trigo, Hugo Simião, Mafalda Grafino, Rudolfo Gomes

publicado por medicosportugueses às 08:00 |

Ribeiro Sanches, António (1699-1783)

Médico e filósofo português, pensador notável na Europa da época e personalidade importante na renovação do ensino médico em Portugal. Filho de cristãos-novos, toda a vida foi atormentado pela intolerância religiosa. Em jovem, frequentou Medicina em Coimbra, mas rapidamente se fatigou do ambiente obscuro da escola portuguesa e partiu para Salamanca, onde obteve o grau de Doutor em 1724. Regressa, então, a Portugal, mas a sua estadia em solo nacional não seria duradoura: por denúncia de um primo à Inquisição por práticas de judaísmo, é obrigado exilar-se.

 

Após ter passado por Génova, Londres e França, tendo estudado na reconhecida Universidade de Montpellier, fixou-se na Holanda, onde frequentou a Universidade de Leiden e assistiu a aulas de Hermann Boerhaave, o mais conceituado professor de Medicina do seu tempo.

Em 1731, a pedido da imperatriz Ana Ivanovna da Rússia, Ribeiro Sanches, que havia sido recomendado à corte por Boerhaave, partiu para Moscovo, onde exerceu, durante 2 anos, o cargo de médico-chefe, instruindo barbeiros-cirurgiões, parteiras e farmacêuticos. Foi, mais tarde, em 1735, nomeado médico dos exércitos imperiais. Durante o cerco de Azov, observou que os doentes transferidos para locais arejados recuperavam mais eficazmente, e passou, desde então, a advogar a ventilação dos hospitais, princípio perfeitamente reconhecido e praticado actualmente. A partir de 1740, Ribeiro Sanches passou a desempenhar o prestigiante cargo de médico da corte. Embora não tenha conseguido salvar a imperatriz, muito cresceu a sua reputação, pelo facto de a autópsia ter confirmado o seu diagnóstico de pedras nos rins.

Após a subida ao trono de Isabel Petrovna, Ribeiro Sanches viu-se mergulhado num perigoso clima de conspirações e, em 1747, conseguiu licença para abandonar S. Petersburgo, a pretexto de uma viagem a França que, para ele, foi a fuga da enigmática corte czarista.

Uma vez chegado a Paris, aí permaneceu o resto da sua vida. Nunca esqueceu a sua pátria, tendo transmitido a Portugal as ideias presentes na Europa, por correspondência com o Marquês de Pombal. A pedido deste ministro, devido às repercussões do terramoto de 1755, escreveu o Tratado da Conservação da Saúde dos Povos. Em 1761, remeteu-lhe a ideia inovadora de que, junto de cada escola de Medicina, deveria existir um hospital e defendeu, também, que o estudo da Medicina fosse aliado ao da Cirurgia.

 

Ribeiro Sanches contribuiu, a pedido de D’Alembert e Diderot, para a Enciclopédia, e cedeu a Buffon importantes informações para a elaboração do 3º volume da sua História Natural. Em 1763, a imperatriz Catarina II da Rússia, concedeu-lhe brasão de armas e uma pensão, como forma de reconhecimento pelo facto de Ribeiro Sanches a ter salvo. Faleceu, em Paris, aos 84 anos, vítima de uma febre intermitente. Ribeiro Sanches foi o protótipo do intelectual do Século das Luzes e a sua vida representativa de um tempo em que a modernidade, apregoada nas suas obras, se debatia com o obscurantismo do tempo passado, visível nas perseguições religiosas de que foi vítima. Pela sua visão modernista e vivência cosmopolita, mais que um grande médico português foi um excelentíssimo cidadão do mundo.

 

Helena Lages, Luís Fernandes, Miguel Nuno Lourenço Varela, Mónica Silva

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Salazar, Abel de Lima (1889-1946)

Em Julho de 1889, nasce em Guimarães Abel de Lima Salazar, homem de vasto ecletismo intelectual. Desde cedo revela uma invulgar aptidão académica e artística, para além de uma rara atitude pró-activa nos mais diversos ramos. Ingressa na Escola Médico-cirúrgica do Porto no ano de 1909, tendo concluído o seu doutoramento com a apresentação da tese Ensaio de Psicologia Filosófica na qual obteve 20 valores. Com apenas 30 anos, torna-se professor catedrático de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, tendo fundado um instituto de investigação na mesma área, onde desenvolve numerosos estudos e métodos científicos, como o método de coloração tano-férrico e estudos em áreas como a biologia celular ou a microscopia. Foi também o principal representante da sua faculdade em vários congressos de divulgação científica. Não obstante, revela uma atitude anti-conformista não só a nível académico como também a nível político, artístico e ideológico.

 

Como professor defende um ensino laico, fomenta o espírito crítico e autodidacta dos seus discípulos, defendendo metodologias e doutrinas que divergem do sistema em vigor. Como resultado de dez anos de intenso trabalho científico e socio-cultural sucumbe ao cansaço e à pressão, sendo internado em 1926 na Casa de Saúde de São João de Deus em Barcelos e interrompendo a sua actividade académica durante quatro anos. Quando regressa, encontra o seu laboratório destruído, mudando-se para Paris onde adquire conhecimentos determinantes para o seu trabalho e onde continua a participar em manifestações contra o regime repressivo português. Como consequência, é obrigado a regressar e a permanecer em Portugal pelas autoridades, que o impedem de exercer a sua actividade profissional. Tais acontecimentos levam Abel Salazar a dedicar os anos seguintes da sua vida essencialmente à área artística.

 

Destaca-se como desenhador, pintor, escultor, escritor, crítico de arte e filósofo, revelando-se como um intérprete da realidade social do seu tempo e aproximando-se de “um universo interpenetrado por diferentes formas de criar ciência e arte, filosofia e acção” (José Cardoso Pires, 1975). Na pintura, assume a sua faceta progressista e retrata o quotidiano do povo, com particular enfoco nas mulheres trabalhadoras, defendendo a luta pelos seus direitos. Na filosofia, destaca-se como divulgador das ideias positivistas e do pensamento revolucionário do Círculo de Viena, sendo convidado, em 1932, a reger um curso de Filosofia da Arte na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. No ano seguinte, adere à maçonaria em prol do seu espírito idealista e revolucionário, que contrastava com a realidade socio-político-cultural portuguesa da época. Nos seus últimos anos de vida, cria o Centro de Estudos Microscópicos na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e desenvolve novos trabalhos de investigação e projectos artísticos.

 

Em 1945, numa das suas últimas intervenções políticas, transmite o seu descontentamento com o estado do país, referindo que Portugal se encontra atrasado 50 anos em relação à Europa. Em 1946, morre em Lisboa vítima de um cancro pulmonar. Deixa vasto legado científico e cultural, hoje exposto na Casa Museu Abel Salazar em S. Mamede de Infesta, fundada por admiradores e amigos.

 

 

Ana Martins, Ana Margarida Franco, Thiago Guimarães, José Pedro Teixeira

publicado por medicosportugueses às 06:00 |

Sarmento, Jacob de Castro (1691(?)-1762)

Médico português filho de cristãos-novos, Jacob de Castro Sarmento, baptizado Henrique de Castro Sarmento, terá nascido em Bragança no ano de 1691. Em 1710, obteve o grau de Mestre em Artes na Universidade de Évora e, no ano seguinte, ingressou na Universidade de Coimbra onde concluiu o curso de Medicina em 1717. Em 1721 prosseguiu a sua carreira em Londres, onde se notabilizou como membro eleito do Real Colégio dos Médicos, sócio da Royal Society e docente da Universidade de Aberdeen, tendo sido o primeiro médico judeu a doutorar-se nesta universidade. A sua ida para Inglaterra terá sido motivada não só pela sua sede de conhecimento mas também pelas constantes perseguições da Inquisição de que as famílias de cristãos-novos eram alvo.

Uma vez em Inglaterra, teve a oportunidade de abraçar livremente o judaísmo e alterou o seu nome de Henrique para Jacob de Castro Sarmento, pelo qual ficou conhecido. Além disso, o estimulante meio científico londrino incentivou Castro Sarmento a aprofundar os seus conhecimentos através da investigação, tendo como autores de referência Newton, Halles e Sharp. A obra de Newton foi particularmente inspiradora para a divulgação das doutrinas iatromecânicas aplicadas à medicina. Em Portugal, a sua influência era tal que D. João V ter-lhe-á pedido conselhos aquando da reforma no ensino médico.

 

Entre o seu legado, destaca-se a célebre “Água de Inglaterra”, feita à base da casca de chinchona, uma planta sul-americana. Este produto era utilizado no tratamento da malária, febres, e cerca de sessenta outras maleitas, que iam desde a epilepsia à incontinência passando também pela gota e pelo sarampo. Contudo, segundo Maximiano Lemos, a “Água de Inglaterra” não era verdadeiramente eficaz em todas elas, sendo até prejudicial quando prescrita para o tratamento de hemorragias e a prevenção de abortos. Embora a receita original seja da autoria de Fernão Mendes, foi a versão comercializada por Sarmento que se popularizou em Portugal durante quase um século.

 

Em 1731, na tentativa de contribuir para o desenvolvimento do meio científico em Portugal, entre os seus projectos contam-se a elaboração de um plano para a criação de um horto botânico em Coimbra e a oferta à Universidade de Coimbra de um microscópio para uso nas aulas de medicina.

 

Atribui-se igualmente a Castro Sarmento a introdução em Portugal do de um novo método profilático da contra a varíola – a inoculação jenneriana -  em Portugal, que mais tarde resultaria resultou numa diminuição considerável da taxa de mortalidade associada a esta. Em termos de publicação, salientam-se cerca de trinta títulos entre os quais algumas traduções de obras científicas para português da sua autoria, sendo a mais significativa a Materia Medica (1735) que revolucionou a farmacologia excessivamente empírica da época, tornando-a mais científica.

 

Jacob de Castro Sarmento morreu em 1762 e foi sepultado no cemitério de St. Andrew, em Inglaterra. Pelas palavras de Ricardo Jorge, “Este insigne português, sendo um dos que mais aproveitaram no trato das nações estranhas, foi também dos que mais concorreram para naturalizar em Portugal os princípios e o gosto da moderna Filosofia.”

 

Ana Sofia Pinto, Fernanda Pinheiro, Marta Pires, Vera Pinheiro

publicado por medicosportugueses às 05:30 |

Sousa Martins, José Tomaz (1843-1897)

 

 

Reputado médico e professor, nasceu em Alhandra, a 7 de Março de 1843. Marcou a medicina e a sociedade portuguesa do séc. XIX, exercendo uma forte influência sobre os colegas de profissão, alunos e pacientes que tratou. Faleceu aos 54 anos, em Agosto de 1897, atingido pela doença que tanto tentou combater – a tuberculose. Tinha doze anos quando, aconselhado pela mãe e já órfão de pai, foi morar com o seu tio, em Lisboa, ficando a trabalhar na farmácia deste, como aprendiz. Simultaneamente, frequentava o Liceu Nacional de Lisboa.Aos 18 anos de idade, Sousa Martins matriculou-se no Curso médico da Escola Médico - Cirúrgica de Lisboa. Ingressou, também, em Farmácia, um ano depois, na Escola Politécnica de Lisboa, frequentando contemporaneamente os dois cursos.

 

 

Concluiu, com louvores, Farmácia em 1864 e Medicina em 1866, com apenas 23 anos. A sua tese de Licenciatura, O Pneumogástrico Preside à Tonicidade da Fibra Muscular do Coração, viria, mais tarde, constituir, pela sua singularidade e referência, um segmento da grande obra O Pneumogástrico, os Antimoniaes e a Pneumonia. Em 1868 foi nomeado Demonstrador da Secção Médica da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e sócio da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa. Em 1872 foi elevado à categoria de Lente Substituto e em 74, nomeado Médico Extraordinário do Hospital S. José. A acção humanitária exercida junto dos pobres tornou-o num dos médicos mais prestigiados de Portugal. Ganhou, também, prestígio na luta contra a tuberculose, que atingia, então, proporções epidémicas. Neste sentido, em 1881, sugeriu a realização duma expedição científica à Serra da Estrela e a posterior construção de sanatórios destinados à climoterapia e tratamento da Tuberculose nesse local. Escreveu, em 1890, A Tuberculose Pulmonar e o Clima de Altitude da Serra da Estrela.

 

 

Como professor, Sousa Martins é recordado por dar grande importância à componente psicológica e humana da prática médica. Orador brilhante e homem de actividade inesgotável, possuía também um apurado sentido de humor. É relatado que, certo dia, um estudante inexperiente administrava clorofórmio a um doente. Estava trémulo e hesitante. O Mestre, vendo-o naquele estado e desejando incutir-lhe ânimo, disse-lhe, de maneira a que o doente o não ouvisse: ‘Ó homem, não se atrapalhe! Olhe que, na peor das hypotheses, não é o senhor quem morre’. Muitos foram os cargos que desempenhou, de Secretário e Bibliotecário na Escola Médico – Cirúrgica a Director efectivo da Enfermaria S. Miguel no Hospital S. José.

 

Foi Delegado à Conferência Sanitária Internacional de Viena, em 1864 e de Veneza, em 1897, na qual foi eleito Vice - Presidente, regressando a Lisboa muito debilitado fisicamente. Com poucos meses de vida, procurou melhoras no Sanatório da Serra da Estrela que ajudara a criar. Atacado pela tuberculose, pôs fim ao seu sofrimento, suicidando-se nesse mesmo ano. Após a sua morte, no Campo Santana, em frente ao edifício da Escola Médica, foi erguido um monumento à sua memória. Instalou-se, então, um culto à volta da sua figura, como guia espiritual: em vida, ajudou como médico e amigo; presentemente, muitos crêem que continua a zelar pelos carenciados.

 

Francisco Sampaio, Gustavo Mendes, Joana Morais, Vitória Pires

Ilustração: Inês Azevedo

publicado por medicosportugueses às 05:00 |

Zacuto Lusitano (1575-1642)

Zacuto Lusitano, nascido em 1575 na cidade de Lisboa foi um dos médicos mais marcantes da sua época. Proveniente de família judaica, pouco se sabe em relação aos seus pais. Pensa-se que o seu pai terá sido Diogo Zacuto e sua mãe Esther Zacuto, nascida em Amsterdão. Apesar de ter vivido em Portugal grande parte da sua vida, 50 anos, Zacuto Lusitano tornou-se célebre principalmente pelo tempo em que viveu fora do país. 

 

Estudou humanidades no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, e mais tarde, filosofia e medicina em Coimbra e Salamanca. Após a morte do seu pai, mudou-se para a Universidade de Siguenza, em Espanha, que embora menos conceituada seria mais acessível às suas possibilidades financeiras, e onde se doutorou por volta de 1594.

 

De regresso a Portugal, onde era conhecido como Manuel Alvares de Távora de forma a camuflar a sua origem judaica perante a Inquisição, foi obrigado a exercer medicina juntamente com outro médico em Coimbra durante dois anos para obter a sua licença médica e, ainda, a realizar o exame de habilitação perante o Físico-mor do Reino, uma vez que tinha frequentado uma Universidade estrangeira.

 

Por receio às perseguições da Inquisição, deslocou-se para Lisboa, onde se dedicou às vítimas da peste que devastou Portugal em 1598. Foi nesta época que adquiriu o prestígio que lhe permitiu a prática da clínica ilustre e remunerada. Mas, os tempos que se avizinhavam não eram de bonança para este ilustre clínico. Ainda temendo as acções da Inquisição, retirou-se, por volta de 1625, para Espanha e, depois, Amsterdão onde residiu até à sua morte acompanhado da sua esposa e dos seus filhos. Aí, finalmente, desenvolveu um notável trabalho, na prática da medicina e no estudo da sua história, atraindo clientela e firmando a sua reputação, tanto pelo seu saber como pela sua felicidade no tratamento dos doentes. Das suas obras salientam-se De Medicorum Principium Historia (1629-1642), que reúne as observações de grandes médicos da antiguidade às quais Zacuto acrescentou comentários e casos da sua prática clínica e De Praxi Medica Admiranda (1634) que agrega uma colecção de observações notáveis, na maioria colhidas por ele próprio, e algumas delas fornecidas por outros médicos. Foi neste local, também, que Zacuto se circuncisou a ele próprio e adoptou o nome de Abrahaão Zacuto, ao qual acrescentou Lusitano como referência à sua pátria.

 

Apesar de ter vivido numa época em que a perseguição e a humilhação dos judeus eram uma constante, este nobre e inteligentíssimo médico conseguiu enaltecer-se nos vários locais por onde foi passando e realizou várias actividades significativas. Interessou-se pelas propriedades de plantas exóticas, indicando o maracujá do Brasil como um dos frutos com qualidades curativas, do mesmo modo, exaltou as virtudes do cacau e do chocolate. Tratou magistralmente, ao longo da sua vida, e de igual forma, pobres e ricos. Foi convidado para assistir a uma autópsia, que era caracterizada, naquele tempo como um acontecimento de “Grande festividade...”, visto ser um acto raro que ocorria nos laboratórios de dissecção da Holanda. Conheceu praticamente os trabalhos de todos os médicos holandeses, os quais rotulou de eruditíssimos, doutíssimos e brilhantíssimos.

 

Ana Catarina Mateus, Ana Mendes, Alissa Tavares, Liane Moreira

publicado por medicosportugueses às 02:00 |

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